Resenha: Após o Anoitecer e Minha Querida Sputnik por Haruki Murakami

Esse ano estou fazendo meu desafio de ler mais de 30 livros. Por enquanto tudo anda nos trilhos, apesar de eu ainda não ter lido nenhum livro no mês de março. Você pode acompanhar o que ando lendo por esse link¹ ou por esse². Resolvi tornar o desafio um pouco produtivo e escrever alguma coisa sobre os livros que li.

Faz muito tempo que não escrevo resenha. Melhor, vamos chamar isso de uma opinião pessoal, não quero carregar o peso de ter que escrever preso num roteiro de resenha. Também não quero que você espere isso.

Dessa vez vou falar um pouco de dois livros do Haruki Murakami que li esse ano e da minha opinião pessoal sobre o escritor. Você pode ler, não haverão spoilers de nenhum dos livros.

23murakami1_span-articleLargeUma vez mencionei que era muito estranho ler Murakami porque praticamente não acontecia nada nos livros dele. Eu mantenho um pouco essa ideia, mas cheguei a uma nova compreensão. Acontecem sim coisas, mas elas são pequenas vistas de fora, você tem que entrar na perspectiva dos personagens para poder ver a grandeza dos acontecimento e forma como isso afeta eles.

A melhor metáfora que encontro para descrever ele é a seguinte:

Ele pega você e lhe joga num quarto afastado do mundo. Um quarto branco. Você vê pequenas nuvens flutuando ao seu redor, por isso você sabe que está muito no alto.

Você está sentado na frente de uma tv nesse quarto e então a tv liga e começa a mostrar a vida dos personagens. No começo a situação é muito estranha, mas logo você se concentra na tv e no que passa nela, afinal é a única coisa que há para se concentrar. E você vê a vida de várias pessoas até que a tv desliga. Você continua no quarto, você sabe que a vida das pessoas dentro da tv continua, mas você já não tem mais acesso a elas.

É isso.

Pode ser muito frustrante.

O “segredo” para ler Murakami é gostar do clima. É a coisa que ele melhor sabe fazer, criar um clima agradável e bom de se estar. Não necessariamente feliz, na verdade dificilmente feliz, mas algo fácil de se relacionar. Em geral são fugas muito agradáveis.

Na verdade posso estar sendo preconceituoso, eu me relaciono muito bem com os livros dele, mas me faltam exemplo próximos de pessoas que fazem o mesmo. Em compensação eu consigo olhar para pessoas e imaginar o que elas achariam dos livros deles.

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O primeiro livro dele que li esse ano foi Após o Anoitecer.

Nele temos duas personagens principais, Mari e Eri.

A primeira é uma jovem estudante tentando ler um livro em um café. A segunda é uma modelo que esta dormindo em sua cama. O livro se estende ao longo de uma noite acompanhando essas duas personagens e alguns personagens coadjuvantes que surgem no caminho. Você pode ler o livro em uma noite, mas eu acabei lendo em 3 dias durante viagens de ônibus.

A coisa que eu mais gostei nesse livro foi o narrador diferenciado. Voltando a minha metáfora ali de cima, é como se você fosse colocado na mesma cadeira para ver a mesma tv, mas dessa vez uma pessoa está do seu lado, dando palpites sobre o que você está vendo, pedindo que você interprete as coisas de uma forma diferente. É um narrador que cobra participação do leitor, que lhe leva para voar com ele pela noite de Tokyo.

tumblr_m2cnw29hgo1qazr17o1_500— Fico pensando… Será que lembranças não seriam o combustível de que os homens precisam para viver? Se essas memórias são ou não importantes para a manutenção da vida não vem ao caso. Elas podem ser apenas um combustível. Seja uma propaganda de jornal, um livro filosófico, uma foto pornográfica ou um maço de notas de dez mil ienes, tudo isso não passa de papel na hora de queimar, não é mesmo? O fogo não queima tudo questionando “Nossa, isso é Kant” ou “Isso é a edição vespertina do Yomiuri” ou “Puxa! Que peitos!”, concorda? Para o fogo tudo não passa de papel. É a mesma coisa com a memória. As lembranças importantes, as mais ou menos importantes, ou até as que não têm importância nenhuma, tudo indiscriminadamente é apenas matéria de combustão.”

Houve sim uma coisa que não gostei também. Consigo entender que o livro tente retratar as coisas que podem acontecer numa única noite, e que se tente pensar sobre como elas se seguem, o problema é que ele cria muitas ramificações e deixa todas elas em aberto. Um pouco da frustração mencionada acima.

Fala-se muito que Murakami não sabe escrever finais, mas acho que o livro se completa por evoluir uma personagem(talvez uma involução, ou retorno à um lugar seguro).

Num livro dele você tem que ver o final mais como o fechamento de um circulo de personagem, que o fim de um caso, como se o fim do livro não estivesse na solução de um problema, mas na mudança de perspectiva quanto ao problema. No começo eu achava todos os finais dele muito ruins, mas estou começando a ver isso diferente e tenho que reler uns livros dele para aplicar.

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Minha nota no Skoob – ****

http://www.skoob.com.br/livro/36677

 

Minha-querida-Sputnik

O segundo livro dele que li esse ano foi Minha Querida Sputinik.

Tive um caso complicado com esse livro. Tenho ele a mais de um ano e meio, e nesse período tentei ler ele três vezes, mas por questões de humor acabei abandonando a leitura sempre.

Esse é um problema do quartinho que mencionei. É um ambiente de sonho tranquilo, e tem momentos na sua vida que você quer outros tipos de sonhos, momentos que quer realidade, e momentos em que não pode dormir.

Não achei o livro ruim.

Nele um narrador sem nome(ok, ele se chama de K. durante a história) conta a história de Sumire, uma jovem aspirante a escritora que se apaixona por uma mulher muito mais velha que ela. Através das conversas entre K’ e Sumire( principalmente telefonemas no meio das madrugadas) vamos entendendo a relação e os sentimentos que ela tem por Miu, a mulher a quem ela apelidou de Querida Sputnik.

396412f4650311e29cae22000a9f1378_7Qual a diferença entre um signo e um simbolo?

Minha relação com esse livro foi diferente. Toda a primeira parte do livro, com exceção das conversas é bastante cansativa, principalmente por K’ estar relatando relatos de Sumire. Não me agradou quase nada.

A segunda parte salvou o livro de forma surpreendente para mim. Talvez porque aqui K’ se torne um personagem participante da história, além de pelo fato de termos Sumire como uma narradora direta em um dois momentos, o que revela todo um lado novo dela, um que faz dela uma pessoa muito apaixonante.

O livro trata de amor e da relação entre sonho e real, de forma muito sensível e tocante. Muito provavelmente vai haver um relação emocional com algumas passagens. Eu me senti muito triste pelos personagens, ao mesmo tempo que podia entender porque aquilo acontecia, me via obrigado a aceitar, ao mesmo tempo que queria que não fosse assim.

O fim do livro foi provavelmente o melhor entre os livros do Murakami que li.

Vou relatar abaixo minha interpretação do final, mas manterei como spoiler, então leia se não se incomodar.

Selecione para ler:

Em um momento do livro Sumire deixa o mundo real e viaja para o mundo dos sonhos para achar a outra metade de Miu. Depois desse momento não vemos mais ela por muito tempo, e o próprio narrador menciona que nunca mais voltou a ver Sumire. Concluí que o narrador está narrando tudo pós-fato. Então, uma madrugada o telefone do narrador toca e é Sumire ao telefone, a garota por quem ele é apaixonado.

Acredito que, tendo ele concluído que Sumire havia fugido da realidade para encontrar outra Miu, uma que pudesse se apaixonar por ela, o próprio narrador tenha feito o mesmo. A Sumire que liga para ele não é a mesma Sumire que desapareceu, e sim uma versão de sonho, uma que pode se apaixonar pelo narrador, uma que possa levar ele embora.

Bem, eu acho essa uma conclusão muito boa para o livro, uma conclusão que abre uma nova história.tumblr_mh5tibLzjz1qgt1duo1_1280.png

 

 

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