O Retorno de Bryan Singer a Franquia X-Men
Acho que além do Homem-Aranha em 2002, a adaptação de quadrinhos que mais me fez perder o sono de tanta ansiedade antes da estreia foi o primeiro X-Men (2001). Para mim que cresci lendo os quadrinhos e assistindo o desenho na extinta TV Colosso, nas manhãs da Globo, ver os meus heróis favoritos no cinema era uma das coisas mais legais que podia acontecer (Ah, nada como ter doze anos de idade). Naquela época não tinha YouTube para rever o trailer várias e várias vezes e especular como seria o resultado final, então qualquer informação que conseguíssemos sobre o filme era valiosa. De certo modo isso era bom, pois ajudava também a não criar tantas expectativas, deixava quase todas as surpresas para o filme em si. Dito isso, talvez tenha sido essa alta expectativa que tenha feito eu me desapontar com X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Longe de ser um filme ruim, não pude deixar de sair do cinema, bem menos animado do que imaginei, e com a sensação de que faltava ali alguma coisa.
Baseada na clássica HQ, de 1981, do roteirista Chris Claremont e o desenhista John Byrne, o longa de Bryan Singer toma algumas liberdades em relação ao material original; o futuro distópico ganha contornos bem mais sinistro, por exemplo. O visual pós-apocalíptico lembra bastante o de Exterminador do Futuro, o que é até irônico já que dizem que os quadrinhos da dupla foram umas das fontes de inspiração para James Cameron e a saga da família Connor em sua luta contra as maquinas. A ideia de fazer Wolverine voltar no tempo, ao invés da Kitty Pryde é acertada, e funciona muito bem, mas ainda acho que poderiam ter dado alguma explicação mais detalhada para essa habilidade da Lince Negra de enviar a consciência dos outros de volta no tempo (?). Mutações secundárias são algo recorrente nos quadrinhos, um simples diálogo poderia ter deixado seus novos poderes um pouco menos vago. Mas essas alterações não comprometem a trama. A série animada dos anos 90 também mudou muita coisa, quando adaptou a mesma história para as telinhas, e nem por isso ficou ruim.
Como todo bom blockbuster que se preze, as cenas de ação estão deslumbrantes. É ótimo finalmente ver os X-Men usando seus poderes em conjunto, como uma verdadeira equipe e em grande escala na tela grande. Por mais que eu prefira o visual clássico das Sentinelas, tenho que admitir que o resultado ficou até bem satisfatório. É uma pena terem demorado tanto tempo pra usá-los no cinema. A ideia de explorar o desenvolvimento da Mística é interessante também. A personagem tem muito mais relevância do que tinha até agora na franquia, e suas motivações parecem bem mais convincentes. E quanto mais Jennifer Lawrence melhor. Outro que merece destaque é o Magneto do Michael Fassbender, que está mais implacável do que nunca. Se ele já roubava a cena no First Class, aqui ele mostra porque é a escolha certa para interpretar o Mestre do Magnetismo quando jovem. O combate dele com Wolverine no final do filme é ótimo, e me fez ter esperança de um dia ver nos cinemas a clássica cena de X-Men: Gigante 2 (ah, que saudade do formatinho), quando Magneto surtado arranca todo o Adamantiun do corpo de Logan. Um dos meus maiores receios, o Mercúrio de Evan Peters, se mostrou uma grata surpresa. O visual setentista, que em todas as fotos promocionais do filme pareciam bem brega, funcionam perfeitamente no filme. O personagem é engraçado, tem boas tiradas (tem até uma piadinha com a paternidade dele), e a cena em que ele ajuda a libertar Magneto do Pentágono, por si só já vale o ingresso. Mas na mesma velocidade em que aparece, ele some da trama sem deixar vestígios. E esse é um dos meus problemas com o filme.
Por mais que eu seja fã, e adore o primeiro X-Men dirigido por Bryan Singer, é chato o ver cometendo os mesmos erros com personagens icônicos dos quadrinhos. Principalmente depois que Matthew Vaughn, fez um dos melhores filmes dos mutantes até agora. X-Men: Primeira Classe é tão bom, que eu até perdoo a blasfêmia de fazer da Mística irmã do Xavier. Muitos fãs odeiam Brett Ratner por matar o Professor Xavier e o Ciclope em o Confronto Final (e pelo excesso de personagens também, diga-se de passagem), mas eu não esqueço que Singer fez praticamente a mesma coisa com o marido da Jean Grey em X2. Scott Summers pode não ser o meu personagem favorito, mas ele é o líder dos X–Men, e simplesmente somem com ele logo no início do filme, até quase o final. O mesmo acontece com Noturno, interpretado pelo ator Allan Cummings, que tem uma das cenas mais sensacionais de super-heróis já filmadas, e não faz mais nada o filme inteiro. Isso acaba se repetindo em Dias de um Futuro Esquecido com o personagem de Evan Peters.Custava alguma coisa terem aproveitado um pouco mais o Mercúrio na história?
O mesmo vale para todos os mutantes que são introduzidos no futuro. Bishop, Blink e Pássaro Trovejante não tem uma linha de dialogo sequer. Isso é um pouco frustrante quando uma das coisas que torna o filme anterior tão bom, é que todos tinham seu certo tempo de tela. Por mais que seja bacana ver esses personagens finalmente ganharem vida no cinema, é um tanto quanto triste vê-los fazendo apenas figuração. Junto com Míssil, Mancha Solar era um dos meus Novos Mutantes favoritos. Ainda que ele apareça de uma maneira mais honrosa do que a Psylocke no terceiro filme, por exemplo, (eu só descobri que ela estava no filme muito tempo depois em um fórum na internet), eu não consigo deixar de imaginar que esses personagens poderiam ter sido muito melhor aproveitados. Ok, as cenas de ação deles são ótimas e tal, mas caramba, custava dar alguma fala, ou importância de verdade pra eles? O Bishop tem uma história de origem nos quadrinhos tão bacana, e se encaixava tão bem com a temática pós-apocalíptica do filme… Dificilmente teremos outra oportunidade como essa nos cinema para utilizá-lo. Esse jeito do Singer em acomodar personagens, os reduzindo a uma mera aparição é uma das coisas que mais me incomoda na franquia.
Outra coisa que parece não funcionar bem pra mim foi a história do Professor Xavier do James McAvoy. Precisavam mesmo fazê-lo voltar a andar? No final do First Class, ele já tinha aceitado bem sua nova condição, por mais que ele tenha tido perdas ao longo dos anos, o comportamento dele é muito distante do homem que sempre foi o mentor dos X-Men. Não era a fé inabalável do Professor X, que por tantos anos manteve vivo o sonho dos mutantes de convivência pacifica? Ainda que seja sua porção mais jovem, que ainda está se encontrando, a representação feita do personagem é meio exagerada. Poderiam ter tido um pouco mais de sutileza ao retratar seu conflito interno. McAvoy é um ator suficientemente bom para fazer isso. Ao menos rendeu a excelente cena com os dois Xavier dialogando na mente do Wolverine.
No contexto final, parece que o que mais pesou mesmo no filme, é que ele é muito mais um reboot disfarçado de sequência. O que é estranho se levarmos em consideração que o Primeira Classe já era um reboot. A estratégia de voltar no tempo, serve para consertar todos os furos na cronologia da franquia (e que não são poucos), e até que isso funciona bem, mesmo que eles não expliquem como o Professor Xavier voltou a vida depois de ser desintegrado pela Fênix. (Ok, ele até pode ter transferido sua consciência para outro corpo, mas isso não explicaria ter a mesma aparência de antes, e continuar andando em uma cadeira de rodas. O filme tinha que no mínimo mencionar o fato). É bom ver alguns rostos do elenco antigo também, e o final do filme em si, fornece uma segunda chance a esses personagens, mas fica a impressão de que se o filme não tivesse tão preocupado em amarrar todas as pontas soltas dos anteriores, o resultado seria melhor.
Não que isso comprometa o resultado final, Dias de um Futuro Esquecido ainda é um daqueles filmes pipocas que foram feito para serem vistos no cinema, e como entretenimento é muito bom. Mas o meu lado fanboy, que cresceu lendo esses personagens ainda esperava mais desse filme. Bryan Singer me fez acreditar que um bom filme de super-heróis era possível lá em 2001. Matthew Vaughn me fez perceber que os uniformes coloridos amarelo e azul funcionam sim, nas telas. O que falta então pra termos um filme definitivo dos X-Men, que honrem de vez o legado dos filhos do átomo no cinema?! Bom, Singer prometeu Apocalipse para a sequência em 2016, um dos maiores vilões da equipe nos quadrinhos. Mesmo que a alta expectativa tenha funcionado contra mim dessa vez, não tem como não ficar na torcida pelo próximo, (e esperar que dessa vez meus personagens favoritos apareçam por mais de cinco minutos). Veremos o resultado em 2016, quando En Sabah Nur e seus quatro cavaleiros chegarem às telas.