Recomendação de Livro: Mais Pesado Que O Céu – Uma Biografia de Kurt Cobain

Heavier Than Heaven (1)

Eu já tinha começado a escrever o que seria meu próximo post, quando mudei de ideia e resolvi fazer esse texto antes. O motivo da troca? Bom, dia desses li a noticia de que Courtney Love estaria preparando uma cinebiografia sobre Kurt Cobain, que entraria em produção em 2015. A ideia de levar a vida de Kurt pras telas é antiga, e volta e meia sua viúva esboça o interesse em levar o projeto para frente. Mas a noticia me fez pensar em como seria legal ver a trajetória do Nirvana finalmente contada nos cinemas, em especial se o projeto ainda seguir a ideia de adaptar a biografia Mais Pesado Que o Céu (Heavier Than Heaven), escrita pelo jornalista Charles R. Cross. Isso me fez lembrar o quanto o livro mexeu comigo quando o li há alguns anos atrás, então decidi falar um pouco sobre ele.

Antes de continuar eu tenho que dizer que isso não é um texto crítico sobre a escrita de Cross, ou algo parecido. Não acho que tenho “bagagem” suficiente para avaliar o modo como alguém escreve, e nem tenho tal pretensão. É apenas a minha opinião enquanto fã de longa data da banda. O Nirvana foi, e é a minha banda favorita de todos os tempos. Não tem jeito, posso passar “séculos” sem ouvir que o som deles ainda me provoca aquela sensação de euforia que eu sentia quando tinha meus quinze anos, e achava que um dia também seria um astro do rock (Ah, os sonhos de adolescência…). Havia algo na atitude e nas canções do Kurt que sempre me fascinaram. Em especial, o modo como suas letras, por mais que sem sentido aparente, expressavam toda a raiva, angustia e inseguranças que eu sentia enquanto passava pelas mudanças da puberdade (ainda que não externalizasse isso com frequência). Fora talvez Renato Russo, nenhum outro compositor falou tanto com o adolescente em mim quanto ele.

Heavier Than Heaven (8)

A primeira vez que li Mais Pesado Que o Céu eu tinha por volta dos meus 17 anos, e estava me preparando pra entrar na faculdade. De lá pra cá, devo ter lido mais umas duas ou três vezes, mas sempre me sinto do mesmo jeito quando termino: mal. Mesmo conhecendo de cor o final da história (e quem não conhece o desfecho trágico dela?), não consigo evitar a melancolia que se segue por dias após o termino do livro. Lembro que perto do final, enquanto Cross narrava os últimos passos de Kurt, tudo o que eu conseguia pensar era “não, cara! não faz isso!”, como se isso pudesse de alguma forma mudar o que ocorreu. Queria que a história dele tivesse sido diferente. Queria que ele tivesse abandonado a carreira e se mudado pra algum lugar isolado, como dizia ter vontade de fazer, e quem sabe assim talvez tivesse encontrado paz. Foram vários momentos que realmente me fizeram ter vontade de chorar. A última vez que ele e Krist se viram, e terminaram trocando socos no chão de um aeroporto; ou quando ele já saturado de ter alguém sempre lhe pedindo alguma coisa, simplesmente se entrega em um longo e triste abraço a um conhecido nos bastidores de um show, deixando todos falando sozinho. Mas acho que o que mais me doeu foi constatar que sua filha cresceria sem a sua presença. Ele não a veria crescer. Não veria mais seu sorriso. Não a abraçaria nunca mais. Com o tempo ele seria apenas uma lembrança distante em uma fotografia para ela. A pequena Francis teria que conviver com o mesmo fantasma que ele carregou a vida inteira: a ausência dos pais. Kurt nunca lidou muito bem com a separação dos pais, e muito menos com as constantes rejeições e abandonos que se seguiram pelo resto de sua vida. Não era apenas o vício em heroína, o desgaste com a fama ou a rotina de shows que o consumiam. Kurt era infeliz antes de ser famoso, e continuou sendo mesmo após chegar ao estrelato. A música foi sua grande paixão, mas nem ela era capaz de preencher o vazio que ele sentia por dentro. Olhando de fora isso parece tão claro. Era tão obvio que ele daria cabo da própria vida, que fica difícil entender como ninguém percebia. Mas acho que essa talvez seja a pior coisa nas tragédias anunciadas; por mais que se saiba, ou que se espere o que vai acontecer, não há muito que fazer para se impedir.

MTV Unplugged: Nirvana

Definitivamente, é uma leitura que eu recomendo a todos os fãs da banda, ou a qualquer um que goste de música em geral. É intenso, dramático, e simplesmente contagiante. Cross realizou varias entrevistas com amigos, familiares e pessoas próximas, além de ter acesso aos vários diários que Kurt escreveu ao longo de sua vida, e consegue fazer com que nos sintamos íntimos do seu biografado. Essa talvez seja a melhor qualidade de Mais Pesado Que o Céu (título inspirado na turnê europeia com a banda Tad, e fazia alusão ao peso do vocalista Tad Doyle com seus 130 kg), sua capacidade de nos fazer sentirmos próximos do Kurt. É um olhar honesto sobre uma figura tão icônica, mais preocupada em entender um pouco sobre o homem que Cobain foi, do que realçar sua aura mítica. Lembro que mudei e muito minha opinião sobra a Courtney Love depois dele. Havia algo de realmente belo na relação deles dois que eu nunca havia conseguido enxergar antes.

Heavier Than Heaven (M)

Escuto o som deles com menos frequência hoje em dia, mas acho bacana quando vejo uma garotada mais nova (como se eu fosse muito velho… hehe) se interessando pela música dos caras. Alguns amigos me perguntam como eu ainda posso curtir algo tão datado… Tão adolescente. Também já vi muita gente criticando como é possível se admirar alguém com tanta falta de amor próprio. Bom, a verdade é que eu entendo o Kurt. Acho que no decorrer da minha vida conheci muitos caras como ele. Entendo sua dor, e entendo os motivos que o levaram a fazer o que fez. Não aprovo, nem condeno… apenas compreendo. Cada um sabe o quanto consegue suportar. Pra mim nunca foi seu suicídio que o tornava icônico. Era o modo como ele conseguiu botar pra fora a fúria e frustração de toda uma geração através de sua música, gritada a plenos pulmões. Lendo o livro descobri as histórias que haviam por trás de suas letras, e seus reais significados, e o quanto ele era sincero em suas composições. Havia paixão, havia honestidade, havia verdade na música do Nirvana, como eu não vejo mais nas bandas por aí. Ainda que fale com uma parte de mim que ficou para trás há tempos, é bom olhar pra ela com os olhos de adulto e conseguir entender o quanto ela foi importante para o jovem chato que eu fui um dia.

Heavier Than Heaven (9)

Despeço-me com um dos meus covers favoritos da banda, Oh, Me do Meat Puppets:

I can’t see the end of me
My whole expanse I cannot see
I formulate infinity
And store it deep inside of me

                          


Paz, amor e empatia!

Até a próxima, pessoal.

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