A Influência Musical de Yuzo Koshiro Nos Games – Última Parte

Ainda no ano de 1990, Yuzo, em sua parceria com a empresa Enix, compôs a trilha de um RPG pouco conhecido fora do Japão, chamado Mysti Blue, no qual é possível ver o germe de um novo caminho musical para os games. Trata-se da influência techno-dance e do ritmo freestyle (muito em voga no cenário musical da época) como novo pano de fundo sonoro dos jogos.1334713-yuzo_koshiro Nesse mesmo ano, Koshiro compôs uma das trilhas que considerou das mais difíceis ao longo de sua carreira: a trilha do jogo Slice, para computador Sharp X68000, que pode ser considerada um esboço do estilo que o tornaria uma celebridade no ano seguinte:

That’s thrice (Slice).

 

 

Em abril de 1991 é lançada uma nova versão de The Revenge of Shinobi para Game Gear. Mais uma vez Yuzo mostra o seu domínio na composição de níveis mais elementares para jogos e sua versatilidade e habilidade em lidar com plataformas portáteis, criando trilhas empolgantes e enérgicas. No mesmo ano, Yuzo é escalado para compor as trilhas de Sonic (o corpo-espinho azul e mascote da Sega) para Master System e Game Gear. A trilha sonora de Masato Nakamura para a versão Megadrive ficou amplamente conhecida e fixada na cabeça de toda uma geração de gamers. E Yuzo Koshiro não fica atrás ao criar trilhas novas e específicas para a versão do Master System e game Gear.

Bridge Zone (Sonic).

 

A melodia simples e fixante, as interposições de sons que evidenciam o grande uso técnico de canais para dar impressão de vários instrumentos, a sonoridade vibrante… São apenas alguns dos elementos que indicam sua criatividade magistral. Porém, foi em 1991, mais especificamente em agosto, que Yuzo criaria seu nome na história dos games, com a trilha de abertura de um dos games mais famoso do Megadrive: Street of Rage.

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Sobre a trilha, basta ouvir e tirar suas próprias conclusões:

A incorporação de elementos de Techno, House, black etc, nas trilhas sonoras de jogos, revolucionou o mundo dos games, uma vez que esses estilos nunca haviam sido inseridos antes. O nome de Yuzo Koshiro mais uma vez é inserido na abertura do jogo. A equipe da Sega (denominada AM7) se tornaria independente e se uniria a empresa Ancient, fundada pela família de Koshiro em 1990. Seu nome, desde então, constava em inúmeras revistas de games especializadas, que davam maior destaque e atenção às trilhas sonoras de Street of Rage do que o jogo em si. A abertura que mesclava elementos de sonoridade sombria, melancólica e ao mesmo tempo contagiante e inesquecível, viria a se fixar na memória de muitos gamers que viveram naquela época, na qual era comum o cenário musical de bandas como Black Box, Soul2Soul, Maxi Priest, Technotronic, Electribe 101, etc.

0Aliás, em várias entrevistas Yuzo declara que não só visitou vários clubes da época como foi influenciado pelos grupos citados acima. Foi um dos primeiros japoneses compositores a ter inúmeras entrevistas e comentários em revistas especializadas e também a ter notória publicidade nos EUA, Yuzo Koshiro se torna, portanto, um dos compositores de games a ter grande reconhecimento dentro e fora do Japão.

O desafio de trazer a música Techno-dance, House e Black foi tão bem sucedida que algumas influências são muito evidentes:

Pump Up The Jam (Technotronic).

Compare então com a trilha da primeira fase, Fighting in the Street.


Ou a batida de Keep On Movin do grupo Soul 2 Soul, que Yuzo usou para trilha de abertura de Street of Rage. Além disso, o nome da música do stage 4 se chama keep The Groovin, seria mera coincidência? Uma homenagem, talvez.

 

keep The Groovin

 

streetsof-rage22Em 1992, enveredou por ritmos nunca antes explorados por ele como o reggae, samba e ska. Mostrou, mais uma vez, grande versatilidade na utilização desses ritmos para a composição sonora de Super Adventure Island, para Super Nintendo. Mas foi com a continuação de Street of Rage II que Yuzo alcançou seu auge. Aclamado mundialmente, a segunda franquia da série não poupou esforços para produzir um jogo de alta qualidade: com ótimos gráficos e jogabilidade, personagens maiores e bem animados, o som não poderia ficar atrás. Com mais memória no cartucho, a Sega permitiu ao novo jogo, que fosse explorada maior capacidade técnica de utilização de samples no canal de som FM do Megadrive, e a parceria de Yuzo Koshiro com Motohiro Kawashima não poderia ser melhor.

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Bem, as trilhas falam por si só:

Go Straight.

Dreamer. Ritmo muito similar a Ride on time do Black Box.

Slow Moon surpreende pela sua qualidade sonora, difícil acreditar que foi possível criar um som dessa qualidade num console de 16bits. Melancólica e tranquila, é uma das mais belas da trilha.

Under Logic.

sorrv5coverInfluências de grupos como Bass Bumpers, Enigma, Rhythm-Method, Magoria, The Shamen, entre outros, são incontestáveis. As trilhas de Yuzo koshiro são consideradas uma das melhores feitas para o console Megadrive. Mais adiante, quando a música Techno ia perdendo força, Yuzo decide compor a trilha de Actraiser 2, em um esquema puramente orquestral. Exaltando a pureza das melodias de Anton Bruckner, yuzo opta por construir uma orquestra limpa, sem fundir batidas frenéticas e eletrônicas com música clássica.

O terceiro jogo da franquia Street of Rage aponta, talvez, a uma fase de declínio na produção de Yuzo Koshiro. Com um trabalho mais experimental, em parceria com o compositor Motohiro Kawashima, não agradou muito os fãs. A crítica foi dividida, alguns adoraram, outros detestaram. As trilhas não mais traziam as influências de outrora. Yuzo explicará em uma entrevista que as trilhas para Street of Rage III foram feitas pelo computador, com criação de softwares que criava variações segundo certas batidas de samples. A intervenção dos compositores era mínima. Sistema que foi usado para a composição sonora do jogo Beyond Oasis, bom jogo em jogabilidade e com ótimos gráficos, porém sua trilha sonora era puramente experimental, com a finalidade de criar clima e ambientação.

MAGFest XI Day Three

Nessa época, Yuzo compôs trabalhos de menor alcance, ele se dedica então, exclusivamente, a produção dos seus próprios jogos com Ayano, sua irmã e designer de personagens de jogos. Yuzo Koshiro só voltaria a receber atenção na virada do milênio, como compositor de uma das maiores apostas da Sega: o jogo chamado Shemue. Após algumas divergências com as contínuas intervenções do diretor Yu Suzuki e em relação ao modo de produção, a trilha de Shemue não recebe grandes críticas positivas. Além disso, Yuzo compõe trilhas para o filme Wangan Midnight (2002), porém explorando timidamente os elementos eletrônicos, tornando-a muito aquém do potencial esperado.

Em 2003, faz um trance no remix na música do personagem Balrog do Street Fighter para o CD Street Fighter Tribute. O tributo teve críticas positivas, e em 2004 Yuzo participa de inúmeros projetos de participações especiais em CDs que não são para jogos, como Merregnon e o Ten Plants. Projeto criado na Alemanha, cuja finalidade era reunir compositores renomados para criar músicas novas e explorar a criatividade.

Nesse ínterim, Yuzo Koshiro volta a trabalhar para a Sega, no game Island of Kaiju. Mas é no fim de 2004 que Yuzo retorna às origens, criando trilhas dançantes semelhantes à época de 90, com o jogo Wagan Midnight Maximum Tune e sua continuação, englobando novos sintetizadores e sons do Trance, Disco, Hi-nrg e Dream house e Fusion Europeu. As produções de 2004 e 2005 vieram para mostrar que Yuzo Koshiro poderia, com a mesma capacidade magistral de antes, retomar o estilo dance para os jogos atuais, fundindo estilos e estabelecendo novos parâmetros criativos para a composição de trilhas de jogos atuais.

Por fim, deixo um vídeo de Yuzo dando um show como de DJ no Club japonês “Legend”. Espero que tenham gostado.

 

 

 

 

 

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