Top 10 Filmes Bíblicos

A Última Tentação de Cristo (2)Aproveitando a estreia de “Os Dez Mandamentos – O Filme” na última quinta-feira resolvi fazer um top 10 com alguns dos meus filmes bíblicos favoritos. Como sei que muito dos filmes presentes na lista estão envoltos em polêmicas, queria deixar claro que a ideia não é causar controvérsia, nem desrespeitar a fé de ninguém. Como alguém criado dentro de uma família católica, mesmo não seguindo nenhuma religião, ainda me interesso bastante pelo tema. Em especial pelos filmes que tratam dos dogmas religiosos que eu tanto questiono. Acho que independente da crença buscar ver as coisas por outra perspectiva é sempre válido. Então com isso em mente, simbora lá:

10. O Evangelho Segundo São Mateus (1964), de Pier Paolo Pasolini

O Evangelho Segundo São Mateus (2)É no mínimo curioso que um dos filmes mais singelos e belos sobre a vida de Cristo, tendo sido inclusive reconhecido pelo Vaticano como o melhor filme sobre Jesus já feito, tenha sido dirigido justamente por Pier Pasolini, o mesmo diretor de Salò ou Os 120 Dias de Sodoma e Decameron. Comunista e assumidamente homossexual, o cineasta italiano faz um filme realmente belíssimo visualmente, com imagens que mais parecem fotografias em preto e branco, transcrevendo com extrema fidelidade o evangelho de São Mateus. Na verdade, o filme parece um compilado de passagens bíblicas, com os personagens recitando versos e encenando passagens conhecidas, sem parecer se preocupar em seguir uma linha narrativa especifica. Contudo acho que isso mais adiciona do que incomoda no filme. É o relato o que importa no fim das contas. E a forma sutil como Pasolini movimenta sua câmera compensa bastante qualquer outro pormenor da obra. É quase um registro documental da vida de Cristo.

Eu particularmente gosto da desconstrução que o filme já faz logo de cara, ao escalar um ator amador, magro, de sobrancelhas cerradas e pele morena para representar Jesus, fugindo daquele estereótipo da imagem europeia de Cristo, loiro dos olhos azuis. É uma representação bem mais próxima do povo judeu da Galiléia daquela época. Ainda que pareça pouco, isso é de uma ousadia e tanto. O filme não é a minha adaptação favorita da vida de Cristo, mas ganha muitos pontos por sua fidelidade e beleza. É tranquilamente recomendável tanto para religiosos, quanto simples amantes do cinema.

09. Eu Vos Saúdo, Maria (1985), de Jean-Luc Godard

Je Vos Salue, Marie (1)E aqui começam as polêmicas. O controverso filme de Godard sobre a virgem Maria foi o primeiro contato que tive com a obra do cineasta francês. Deu-se mais por curiosidade, pelo fato de ter sido proibido de ser exibido aqui no Brasil, do que pelo filme em si. Na verdade, não acho que haja motivo para tanto alarde, mas entendo o choque e a reação das pessoas. É uma versão modernizada da vida de Maria. Godard toma algumas liberdades criativas e licenças poéticas, mas não fez nada de muito ofensivo a meu ver, embora até compreenda como o teor da obra possa soar transgressor. Digo isso, não só por que sei que algumas das cenas de nudez podem incomodar muita gente, mesmo elas servindo a um propósito dentro da história, mas por causa dos questionamentos que o filme aborda. A trama foca muito mais nos conflitos que estamos sujeitos por conta da nossa natura humana. A luta entre o desejo carnal e a castidade. O contraste entre o divino e o mundano. É uma questão interessante, principalmente por todo o enfoque filosófico que é dado. A Maria de Godard, enquanto mulher, ainda sente o desejo da carne, passa as noites em claro rolando na cama, questiona se está apta para a tarefa que lhe foi dada, mas através da fé e devoção mantém-se resignada, conservando-se pura e casta até o fim. Esse tipo de questionamentos pode parecer blasfêmia, mas na verdade só reforça o caráter da personagem, mostrando todo o seu comprometimento e sacrifício. E claro, tem todo o drama de José, e o peso de saber que a mulher que amava estava grávida do filho de Deus. Eu mesmo sempre me perguntei como José teria reagido a isso, e todas as implicações que casar com a virgem Maria traria.

O filme simplesmente atualiza essas questões, trazendo a história para o mundo moderno, onde Maria é uma jovem jogadora de basquete que trabalha em um posto de gasolina, José é um simples taxista, e o anjo Gabriel é praticamente um homem comum, bruto e meio boca suja, viajando de avião, acompanhado por uma garotinha.

É tudo feito de maneira até mais comportada do que eu imaginava, mas incrivelmente confusa. Os letreiros que aparecem de hora em hora na tela, repetindo a frase “naquele tempo” remontam a passagem do tempo, e simultaneamente, a intemporalidade dos eventos. E a história paralela do professor de ciências que tem um caso com uma de suas alunas, ainda que ateste o caráter pró-religioso do filme, com o professor argumentando como a vida só pode ter sido criada, planejada e idealizada por uma força maior, confunde ainda mais o espectador.

Não é um filme que eu recomendaria para todo mundo, mas entra na minha lista por ser uma experiência única. É bem confuso em sua execução, mas eu gosto muito da abordagem. No fim, Godard só deixa claro a óbvia humanidade de Maria, e em nenhum momento parece querer questionar de fato sua santidade, ou contestar os valores cristãos. Para quem é capaz de assisti-lo, livre dos dogmas e paradigmas religiosos, torna-se uma boa alegoria. Só esteja preparado para sua narrativa nada convencional.

08. Sansão e Dalila (1949), de Cecil B. DeMille

Sansão & Dalila (1)Sansão e Dalila é um dos primeiros filmes bíblicos que tenho lembrança de ter assistido. É um filme dos anos 50, então muita coisa ali pode parecer datada. Os cenários que pareciam grandiosos na época, hoje soam bem artificiais. Mas nada que tire o brilho do longa. A cena final com Sansão derrubando o templo de Dagon é icônica, e ficou registrada na minha cabeça durante um bom tempo. Dirigido por Cecil B. DeMille, também responsável pelo clássico “Os Dez Mandamentos”, a história levou para casa duas estatuetas do Oscar. O filme é na verdade muito mais uma história de amor do que um épico bíblico. Victor Mature está perfeito no papel de Sansão, imponente e ao mesmo tempo vulnerável, é difícil não sentir pena dele o vendo acorrentado, cego e traído pela mulher que amava. Já a bela Hedy Lamarr é a sedução em pessoa. Não é muito difícil de entender como ela foi capaz de encantar e levar Sansão à sua ruína. Mesmo sendo fruto de outra época do cinema, Sansão e Dalila ainda consegue ser um ótimo entretenimento.

07. Ben-Hur (1959), de William Wyler

Ben- Hur não é considerado um dos grandes épicos do cinema à toa. O filme ganhador de onze estatuetas do Oscar é grandioso em todos os sentidos. Tanto em sua duração de mais de três horas e meia, quanto nos cenários, figurinos e orçamento, um dos maiores da história do cinema da época. A trama narra a história do príncipe judeu Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um homem devotado a sua fé, que é injustamente condenado a escravidão por seu amigo de infância Messala (Stephen Boyd). Em paralelo, vemos também a trajetória de Jesus Cristo, desde seu nascimento a sua crucificação, com Judah sempre como uma espécie de observador à distancia de eventos importantes como o Sermão da Montanha e a Via Crucis. O primeiro encontro dos dois é realmente emocionante (até para mim que nem sou religioso), com Ben-Hur já como escravo, abatido e humilhado, recebendo água de Jesus após um soldado romano negar que o os moradores de um vilarejo dessem a ele de beber. É uma cena curta, mas bonita. É interessante que mais para frente no filme os papéis se invertem, com Judah indo ao auxilio de Cristo no meio da Via Crucis. É bem legal a forma como o longa retrata esses encontros, com Jesus quase sempre visto de costas, ou com seu rosto encoberto.

Apesar das cenas da corrida de bigas ter se tornado a mais icônica, e principal referencia que todo mundo tem do filme, todas as cenas de batalhas são muito bem filmadas. A cena de luta com os navios piratas dos Macedônios é muita boa. A trilha sonora também é ótima, nos fazendo sentir a grandiosidade da história (o tema de Jesus é tão sereno quanto imponente). E Heston tá incrível no papel principal. Os exageros dele aqui casam perfeitamente com a narrativa. A reação dele ao encontrar a mãe e a irmã no vale dos leprosos é dramática e intensa na medida certa. É de partir o coração. Enfim, Ben-Hur é um filmaço, e decididamente, um dos maiores épicos bíblico já feito.

06. Os Dez Mandamentos (1956), de Cecil B. DeMille

Os Dez Mandamentos (1)A mais celebre adaptação da história de Moisés, é outro o épico do diretor Cecil B. DeMille e um verdadeiro clássico do cinema. As quase quatro horas do longa passam tranquilamente, devido a uma narrativa ágil, que nunca soa entediante, e do visual grandioso, com efeitos visuais que envelheceram muito bem para uma produção feita há mais de cinquenta anos atrás. A trajetória de Moisés é uma das minhas histórias bíblicas favoritas. E mesmo não tendo nada a ver com povo hebreu ou egípcio, tanto Charlton Heston, quanto o careca Yul Brynner são as primeiras imagens que me vem à mente sempre que penso em Moisés e em Ramsés. O filme só não é minha versão favorita, por que existe a animação da Dreamworks, O Príncipe do Egito.

Praticamente um blockbuster da sua época, o longa toma certas liberdades em relação ao livro de Êxodo. Por exemplo, o triangulo amoroso com Nefretari foi ideia do próprio DeMille (ideia que se repetiu agora na adaptação da Record), para criar ali um drama paralelo, já que nem mesmo é certo se era Ramsés II o faraó na época da libertação dos hebreus do Egito (seu nome sequer é citado na Bíblia). Contudo, esses aspectos não diminuem o brilho do longa. Principalmente quando você tem a presença marcante de Heston, bem contido em seu overacting, concebendo todo um ar de grandeza a figura de Moisés. Mesmo já tendo sido adaptada em forma de minissérie, novela e filmes várias vezes depois, a cena da abertura do Mar Vermelho desse filme ainda continua sendo a melhor e mais marcante para mim.

05. A Vida de Brian (1979), de Terry Jones

A Vida de Brian (1)Monthy Python tem um lugar reservado no meu coração desde que assisti “Em Busca do Cálice Sagrado”. O sexteto britânico sabia como ninguém fazer um humor ácido, crítico e simplesmente hilário do início ao fim (coisa rara hoje em dia). Fazer comédia com figuras bíblicas é sempre complicado, mas o grupo consegue com A Vida de Brian o equilíbrio perfeito entre humor e crítica social, em um de seus melhores filmes. É disparado o meu favorito do grupo. O longa narra a história de Brian, um garoto comum que nasceu na manjedoura ao lado da de Jesus, que quando adulto passa a ser erroneamente confundido com o Messias, e assim como Cristo também é condenado por Pôncio Pilatos e acaba sendo crucificado.

Apesar do que possa parecer, é bom lembrar que o texto do grupo não visa satirizar a vida de Jesus propriamente, mas através da ironiza faz ácidas críticas a fé cega e ao fanatismo religioso. Tem uma cena muito boa em que Brian (Graham Chapman) é obrigado a discursar da janela de seu quarto para uma multidão de seguidores que se aglomerava na porta de sua casa, e diz que eles não precisam seguir à ele ou a mais ninguém, e os manda simplesmente pensarem por si próprios. A multidão, no entanto, continua parada lá, esperando que Brian lhes diga o que fazer, repetindo tudo ele fala. A cena é hilária, mas a crítica é ainda mais genial. Reparem como eles não zombam propriamente da fé, e sim da alienação em massa, de como as pessoas simplesmente seguem algo sem o menor senso crítico, sem nunca questionar nada, e esperando sempre que o outro lhes diga o que fazer. É uma pedrada nos fanáticos.

O filme é hilário, e prova que é possível fazer humor sem ser apelativo ou gratuitamente agressivo com a crença alheia. Eu já vi várias vezes, mas dou gargalhadas toda vez que vejo novamente a cena do apedrejamento. Só o Monthy Python para colocar um homem interpretando uma mulher que tem que se disfarçar de homem (na cena em questão, a mãe de Brian, interpretada pelo ator Terry Jones, tem que colocar uma barba postiça, pois só os homens podiam assistir aos apedrejamentos). É um clássico cult da comédia para ninguém botar defeito. Pode não agradar a todo mundo, mas isso não é problema para o grupo que “sempre olhe para o lado positivo da vida”.

04. Jesus Cristo Superstar (1973), de Norman Jewison

Jesus Cristo Superstar (1)Um dos poucos musicais que eu gosto de verdade. Começou como um álbum conceitual virou produção da Broadway, e em 1973 chegou às telas de cinema. As músicas são ótimas, uma mistura de rock clássico, funk e psicodelia perfeita, sendo sem dúvida o grande destaque da obra, mas toda a abordagem do filme e os elementos que ele incorpora para trazer a história bíblica para um contexto mais contemporâneo são sensacionais. Polêmicas, mas sensacionais. A viagem metalinguística que acontece logo na abertura, com os atores chegando de ônibus, como se prontos para ensaiar uma peça, suscita toda a loucura e ousadia da época. Nota-se de cara a grande influência da contracultura no filme. Dos soldados romanos portando metralhadoras, aos tanques de guerra, aos apóstolos trajando calças boca de sino, tudo evoca todo contexto conturbado do final da década de 60 (o pós-guerra do Vietnã). O Judas negro e a Maria Madalena com traços asiáticos também reafirmam a importância desse contexto para o filme, já que esses anos também foram marcados pela luta dos direitos iguais. E o Judas de Carl Anderson rouba a cena diversas vezes. A interpretação e a voz potente acabam eclipsando a também ótima interpretação de Ted Neeley com seu Jesus hippie (mesmo Gethsemane sendo a minha música favorita do filme).

É uma leitura ousada da vida de Cristo, o retratando como um legítimo ícone pop, mas que também sabe lembrar a importância dos ensinamentos atemporais e universais que ele pregava. Isso é uma das coisas que mais acho legal no filme, ele se preocupa mais com questões como quem é Jesus, e o que faz dele importante, sem precisar ficar reforçando essa aura messiânica dele como em tantos outros. A história se concentra muito mais nesse lado humano, e em como toda a figura de Cristo em si se tornou maior do que as coisas que ele dizia.

03. O Príncipe do Egito (1998), de Simon Wells

O Príncipe do Egito [screen] (1)Tá, o que pode ser melhor do que a versão do êxodo estrelada pelo lendário Charlton Heston? Uma versão animada, oras. O Príncipe do Egito é uma excelente animação, e primeira de uma série de animações em 2D da Dreamworks (que, aliás, bem que poderia voltar ao gênero). Ela bebe e muito da fonte do clássico de DeMille, tanto em seu visual quanto sua narrativa. Na melhor tradição Disney de adaptar histórias famosas para crianças num tom mais light, essa versão é surpreendentemente rica em simbolismos. Tem uma cena em que Ramsés aparece sentado ao trono que é muito boa nesse sentido, onde é possível ver sua estátua e a de Seth ao fundo, reafirmando visualmente todo o discurso que ele faz para Moisés sobre dinastia e dele não ser o elo mais fraco da corrente. Mesmo sendo um desenho, Ramsés é um personagem bem complexo. Eu acho um acerto não o retratarem como um vilão estereotipado (ainda que não concorde com nenhum de seus atos), mas como alguém tão angustiado e dividido como Moisés. Ele é arrogante e cego por poder, mas é notável o peso que se moldar as expectativas de seu pai tem sobre ele.

A relação entre Moisés e Ramsés é uma das coisas que eu mais gosto nesse filme. Eles foram criados como irmãos, e visivelmente ainda tem uma grande afeição um pelo outro, o que torna todo o conflito entre eles mais trágico e emocionante. Contudo, essa ainda é uma história de fé e libertação de um povo. Os números musicais são muito bons (não é à toa que levou o Oscar de melhor canção original), e pros fãs da dublagem nacional temos o grande Guilherme Briggs dublando tanto Moisés, quanto o próprio Deus.

02. A Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson

A Paixão de Cristo (1)Digam o quiserem dele, mas eu ainda sou um puta fã do Mel Gibson. Não só como ator, mas como diretor. A sua polêmica versão da Paixão de Cristo foi acusada de ser oportunista, antissemita e sadista, mas ainda sim é uma das minhas adaptações bíblicas favoritas. Por vários motivos. Primeiro, por que boa parte dessas críticas são exageradas. O filme não é antissemita. A forma agressiva como alguns judeus são retratados, em especial os fariseus, nunca ficando claro de onde vem tanto ódio, é contrastada com a solidariedade exibida por muitos outros judeus que se apiedam do calvário de Cristo ao longo do filme. O fato é que Gibson não procura esmiuçar essas questões, e explicar os pormenores que levaram até aquele ponto, uma vez que o filme se concentra nas últimas doze horas de vida de Jesus. O filme basicamente parte do principio que todos nós já conhecemos a história, sabemos o porquê ele está sendo perseguido e crucificado, e se concentra quase que exclusivamente no flagelo vivido por Jesus. E Mel não economiza na violência gráfica ao retratar esse sofrimento. Sim, é necessário ter estômago forte para assistir as duas horas da interminável tortura ao qual Cristo é submetido. A violência aqui quase beira o sadomasoquismo, mas a reflexão a que ela leva é muito maior. Se a brutalidade e bestialidade do que vemos na tela é dificil de assistir, imagina pensar que um ser humano possa de fato ter passado por tudo isso. Confesso que para mim, que já estava afastado da religião, ainda fiquei um bom tempo refletindo sobre as fortes imagens do filme. Qualquer um que tenha sido criado dentro da crença cristã conhece a história, mas o que filme faz é nos fazer refletir sobre a dimensão dos eventos. As diversas adaptações da vida de Jesus ao longo dos anos amenizaram o impacto da crucificação, e a real violência e barbárie que ela representa. É forte? É. Mas é ao menos coerente com o que é descrito nos evangelhos.

No meio de tanto sangue e bestialidade, porém, tem um momento em especial na Paixão de Cristo, que é de uma simplicidade ímpar, e tão bonita que de longe se tornou minha cena favorita em um filme bíblico, com Jesus trabalhando como um carpinteiro, bem-humorado, brincando com Maria como um homem comum. É um gesto simples, mas que acaba por fazer um retrato muito mais humanizado do que o que estamos acostumados da figura de Jesus, e soa tão natural, que me pergunto por que não o retratam assim mais vezes.

O que mais me incomoda, é como muitos ignoraram todo o primor visual que Gibson emprega no filme. A fotografia, os enquadramentos, as atuações que ele extrai do elenco (Jim Caviezel está soberbo), a decisão de recriar os diálogos em aramaico e latim, tudo confere uma qualidade artística excepcional ao filme. É sem dúvida uma adaptação que os mais sensíveis devem evitar, mas poderosíssima tanto artística quanto religiosamente.

01. A Última Tentação de Cristo (1988), de Martin Scorsese

A Última Tentação de Cristo (1)E no topo da minha lista está a controversa adaptação do sensacional Martin Scorsese para a obra de Nikos Kazantzakis. O filme foi banido em vários países, Scorsese chegou a receber ameaças de morte, e grupos fundamentalistas chegaram a incendiar um cinema que exibia a produção. Extremismos à parte, o longa é sim contestador em diversos sentidos, mas em linhas gerais mantém-se bem fiel aos ensinamentos de Cristo. É preciso ter a mente aberta, e deixar de lado certos dogmas para embarcar na história. Scorsese, cineasta de formação católica evidenciada em muito de seus filmes, cria sua própria versão da história de Jesus. Herege? Fantasiosa? Para alguns talvez. Mas que o longa faz é humanizar a figura de Cristo. Assim como a Maria retratada por Godard é a batalha entre “carne versus espírito” que norteia o enredo. É um relato mais realista, mais preocupado no conflito interno de Jesus enquanto homem, do que em ressaltar sua aura celestial.

É uma abordagem até mais sutil do que eu esperava devido a sua proposta. Muito das acusações contra o filme se devem aos 40 minutos finais, onde Cristo já crucificado é tentado uma última vez pelo diabo (disfarçado na forma de uma pequena garotinha), e vislumbra uma realidade onde ele desce da cruz, casa-se com Maria Madalena, tem filhos e vive a sua vida como um homem comum. Trata-se obviamente de um delírio, mas a ideia de Jesus casando, e em especial consumando o seu casamento irritou muitos cristãos. Contudo, a mensagem não poderia ser mais clara. Sujeito a condição humana, é perfeitamente aceitável que Jesus tivesse características comuns a todos os homens. E a libido é uma delas. No entanto, ele as rejeita. Ele ainda é capaz de resistir às tentações e provações. Torna-lo mais vulnerável não o desmerece, pelo contrario, só o engrandece.

E nesse sentido, Willem Dafoe é o melhor Jesus de todos. Frágil, confuso, inicialmente ele hesita em aceitar seu papel como Messias, mas aos poucos vai descobrindo os desígnios de Deus. Outra licença poética do filme é transformar Judas Iscariotes (Harvey Keitel) no braço direito e discípulo mais querido de Jesus. Toda a relação entre os dois tem um contexto político bem interessante, com Judas querendo uma revolução armada, e Jesus insistindo em métodos pacíficos. O filme ainda conta com uma trilha sonora incrível feita pelo Peter Gabriel, e com a participação especial de David Bowie, como Pôncio Pilatos.

Pelas atuações, abordagem e toda a reflexão a que leva, nos fazendo enxergar Cristo como alguém bem mais real, A Última Tentação de Cristo é o meu filme bíblico favorito. É uma visão diferente, controversa, porém corajosa. Se você conseguir olhar para o filme, o aceitando como uma representação artística e não uma ofensa direcionada a fé das pessoas não terá do que reclamar.

Por hoje é isso, galera!

Até a próxima.

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