Assim fica difícil de te defender, The Walking Dead…
Aviso: O texto abaixo contém spoilers, leia por sua conta em risco.
Se eu não desistir de vez de The Walking Dead após essa temporada, acho que não desisto nunca mais. Minha frustração com o sexto ano não é só por conta do final broxante, que desperdiça toda a tensão criada tão bem ao longo do último episódio ao optar por um cliffhanger covarde, que prefere te prender pelo suspense digno de João Kléber com esse “quem será que morreu?”, ao invés de entregar uma cena verdadeiramente chocante que te faça temer ainda mais o que está por vir. O meu problema é eles utilizarem esse recurso capenga DUAS VEZES na mesma temporada como forma de prender a atenção do espectador. Sério, a série não precisava disso.
A sexta temporada começou muito bem. O primeiro episódio é um dos melhores da série em minha opinião. É estiloso, cheio de flashbacks em preto e branco; resolve todas as questões que o ano anterior havia deixado em aberto; introduz novos personagens; trás um Rick (Andrew Lincoln) com cada vez mais pinta de Heisenberg, e de quebra, ainda estabelece o principal conflito da primeira metade do sexto ano: a gigantesca horda de zumbis que está marchando para Alexandria. Todo esse inicio grandioso prometia e muito. E por uns bons três episódios, eles souberam corresponder a expectativa que haviam criado. Tudo vinha num crescente, só melhorando a cada capítulo, equilibrando bem ação, tensão e drama, até que eles me fazem aquela cagada de fingir matar o Glenn (Steve Yeun).
Veja bem, matar o coreano ali não era um problema em si. Seria meio anticlimático, mas aceitável. Parte da premissa da série e o que faz dela tão boa é o elemento surpresa, essa sensação de que qualquer um pode morrer a qualquer momento. O que me incomodou foi prolongarem desnecessariamente esse mistério. Principalmente, quando estava meio na cara que era só um blefe para assustar os fãs. A sacada de filmar o Glenn caído no chão e de um ângulo que deixasse em dúvida se era ele ou o Nicholas (Michael Traynor) sendo estripado foi boa, mas não o suficiente para me fazer cair naquele truque.
Com a intenção de prender o espectador, a série insistiu em render por três episódios todo aquele lenga-lenga do “morreu, ou não morreu?”, chegando até mesmo tirar o nome do ator dos créditos na tentativa de confundir o público. Poxa, jogar com o espectador é uma coisa, investir num suspense que ninguém de fato comprou para gerar comoção e segurar a audiência é outra bem diferente. A série tem drama, personagens e histórias boas o suficiente para caminhar com as próprias pernas, sem precisar apelar para esse tipo de recurso. O pior disso é que bons capítulos como “Always Accountable” e “Here’s Not Here”, focado inteiramente no desenvolvimento do Morgan (Lennie James), perdem parte de sua força justamente por parecerem que eram apenas um tapa buraco enquanto a série ganhava tempo até revelar o verdadeiro destino de Glenn.
Não há como negar, no entanto, que a série teve sim ótimos momentos. Principalmente após o retorno do seu hiato, quando reproduziram fielmente algumas das melhores passagens dos quadrinhos. Numa tacada só tivemos Carl (Chandler Riggs) tomando o famigerado headshot que arrancou seu olho fora, a sensacional batalha por Alexandria, com a montagem rápida de cenas que mostravam a expressão de cada membro do grupo enquanto lutavam de forma muito similar as HQs, e o discurso final sobre esperança de Rick. E o que foi o Daryl (Norman Reedus) explodindo os capangas do Negan (Jeffrey Dean Morgan) com uma bazuca? Sensacional.
Eu gostei como eles simplesmente resolveram todos os problemas com excessos de personagens e núcleos desinteressantes que a série tinha criado de forma rápida e certeira. Jessie (Alexandra Breckenridge), Ron (Austin Abrams) e companhia saem de cena, e definitivamente não vão fazer muita falta.
A agilidade com que a trama avançou nessa segunda metade da temporada é muito boa. Sem fazer muita cerimônia, apresentaram Jesus (Tom Payne), introduziram Hilltop e a ameaça dos Salvadores na história e estabeleceram Rick e o seu grupo como uma verdadeira força paramilitar mais letal do que os próprios zumbis. O ritmo e construção desses episódios são todos muitos bons, com bem menos altos e baixos que a temporada passada. A verdade é que fora alguns tropeços ao longo do caminho o sexto ano de The Walking Dead soube se manter consistente na maior parte do tempo, conseguindo explorar as nuances e conflitos dos seus personagens de forma simples e direta. O drama da Carol (Melissa McBride), que vinha se tornando a maior badass do seriado, atormentada por uma repentina crise de consciência convence. Eugene (Josh McDermitt) e Padre Gabriel (Seth Gilliam) deixando de serem um fardo e passarem a finalmente cooperar para manter a sobrevivência do grupo foi legal também.
Mesmo achando que nesse novo mundo isso equivale a assinar a sua sentença de morte, eu gosto da filosofia do Morgan, de que toda vida é preciosa. O personagem parece cada vez mais um Mestre Jedi com essa sua postura zen. Ver como seu pensamento se opõe (com certa razão) as ideias de Rick cria um embate ideológico interessante. Não importa o quão fã você seja da série, não há como negar que o ex-xerife se tornou um baita de um vilão sangue frio, que não se importa em matar para conseguir o que quer. Isso fica muito claro quando o grupo chega em Hilltop, e Rick não pensa duas vezes antes de agir como um assassino de aluguel. A única coisa que difere ele do Governador ou do próprio Negan é o lado que ele defende.
Tudo indicava um final épico. A expectativa para o aguardado encontro com Negan não poderia ser maior. Mas aí, na hora de mostrar a que veio, The Walking Dead fez o que faz de pior: enrolar (Ah, é a história do Governador toda de novo).
Sendo bem honesto, eu até gostei do season finale. Ele conseguiu criar uma atmosfera verdadeiramente tensa. Todo o jogo de gato e rato na estrada serviu bem para mostrar o quão perigosos e poderosos os Salvadores realmente são. A cada novo caminho que eles bloqueavam o suspense só aumentava. Como o próprio Robert Kirkman (produtor executivo da série e criador dos quadrinhos) comentou, o episódio também serviu parar tirar do Rick toda essa confiança e arrogância que ele adquiriu nos últimos anos. A expressão dele de desespero, ajoelhado e humilhado diante do Negan é ótima. Você sente ali que a ameaça é real, que pela primeira vez em muito tempo o grupo realmente está em perigo.
E caramba, mesmo com pouco mais de cinco minutos de tela, Jeffrey Dean Morgan estava perfeito como o Negan. Ele não é tão desbocado quanto nas HQs, mas é uma caracterização a altura. A escolha do ator para o papel não poderia ter sido mais acertada, visto o quão bem ele se sai fazendo esses tipos sarcásticos e violentos, mas ainda sim carismáticos.
Acontece que o momento que deveria ser o mais foda do episódio, quiçá de toda série, que deveria justificar toda aquela tensão, todo o horror criado durante a temporada inteira ao redor desse líder misterioso, que aparentemente tem um exercito gigantesco a sua disposição e se acha no direito de declarar o que quiser como sua propriedade, acaba me saindo uma baita de uma brochada.
O problema não é eles nos fazerem esperar até outubro para saber quem morreu, o foda é jogar pro alto todo aquele clímax, desperdiçando a oportunidade de nos deixar angustiados digerindo a morte de um personagem querido e a chance de mostrar a verdadeira faceta do Negan, e por que ele e sua Lucille são tão odiosos, pelo simples suspense gratuito, que não tem outro propósito a não ser ganhar tempo até decidirem quem de fato vai morrer. A cena é até bem feita, filmada do ponto de vista da vítima. Não nego isso. Mas merecia mais. Merecia muito mais.
O chato é que quando a série voltar em outubro, recuperar a sensação de horror que eles criaram em torno desse momento vai ser dificil. Ainda mais conhecendo bem os produtores. É provável que eles cozinhem esse mistério até o meio da temporada, próximo do Mid-Season Finale. Quer apostar como eles devem abrir o sétimo ano com um flashback de origem do Negan ou do Glenn, Daryl e Michone (Danai Gurira) sendo levados até ele?
Eu gosto da série, acho que quando ela quer sabe ser boa como poucas outras, mas ultimamente ela tem me decepcionado bastante. Principalmente, por que eu sei que ela poderia ser muito melhor do é. A questão agora não é nem se o sétimo ano mudará as coisas (já nem acredito mais nisso), mas se eu vou continuar tendo vontade de acompanhar.
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