O Maravilhoso Universo Animado da DC Comics

The_Flashpoint_ParadoxFala, galera! Desde o lançamento de Liga da Justiça: Deuses & Monstros no ano passado venho mergulhando de cabeça nas animações da DC Comics. Sempre ouvi críticas positivas sobre esses filmes, tinha até visto um ou outro, alguns muito bons como o excelente Batman Contra o Capuz Vermelho e a ótima adaptação do Cavaleiro das Trevas, mas era algo bem esporádico. Talvez fosse apenas total desconhecimento meu, ou simplesmente puro preconceito da minha parte por serem animações lançadas direto em DVD, mas o fato é que depois de um tempo assistindo boa parte desses filmes me tornei mais um fã dessas produções. Para quem acompanha regularmente esses lançamentos, e já está familiarizado com o padrão do estúdio posso estar sendo um tanto quanto óbvio, mas o fato é que a qualidade das animações da Warner é incrível. Tanto no quesito história, que em geral tem adaptado arcos famosos ou grandes clássicos da DC muito bem, quanto na qualidade da animação que só melhora de um filme para o outro. Há algumas produções bem mais fracas do que outras, é verdade, mas há certamente muita coisa que vale a pena ser assistida. E é justamente essa a razão desse texto. Depois de conferir os dois últimos lançamentos da Warner, Batman: Sangue Ruim e Liga da Justiça vs. Jovens Titãs, decidi que era hora de escrever um post sobre o universo animado da DC, falando um pouco sobre as melhores animações do estúdio, e por que você deve procurar assisti-las. Até por que está chegando hoje oficialmente ao mercado Home Video a aguardadíssima adaptação de Batman: A Piada Mortal, clássico escrito pelo Alan Moore, e é claro que não poderíamos deixar a data passar em branco.

Vamos lá. É um fato que a DC Comics sempre teve um histórico de boas animações. Acho comparações desse tipo meio desnecessárias, mas se é um consenso quase unânime de que a Marvel domina nos cinemas com suas produções cinematográficas, o mesmo pode ser dito da casa do Superman e Cia. quanto à televisão, onde ela tem reinado com folga há anos com suas séries animadas. Se de uns tempos para cá, os irmãos Warner tem priorizado o público infantil na telinha, com produções como “Batman: Os Bravos e Destemidos” e “Teen Titans GO!”, suas animações produzidas direto para o mercado Home Video tem seguido no caminho oposto, apostando numa pegada bem mais adulta. Criado em 2007, o selo DC Universe Animated Original Movie foi feito pensado num público mais maduro, marcando uma nova era para as animações da editora. A Warner já tinha feito diversos longas animados antes, mas com os filmes dessa linha eles pareceram encontrar a fórmula perfeita para agradar seus fãs mais velhos, com histórias cheias de ação e violência, na maioria das vezes adaptações de minisséries ou Graphic Novels famosas da DC.

doom4_zps3aafa177O primeiro filme dessa leva foi A Morte do Superman de 2007. Dirigida por Brandon Vietti, e produzida pelo mestre Bruce Timm, a animação possui um traço muito similar ao da saudosa série animada da Liga da Justiça, com algumas pequenas mudanças na silhueta de um ou outro personagem. O longa, recheado de cenas de ação, condensa em pouco mais de uma hora os arcos da Morte e Retorno do Superman de forma até bem competente, mas pra mim pecou ao deixar de fora a história com os quatros substitutos do Azulão. Na sequência veio Liga da Justiça – A Nova Fronteira. O filme presta uma bela homenagem a Era de Prata dos quadrinhos, adaptando fielmente a minissérie de mesmo nome. O visual de época e o estilo dessa animação são bem legais.

Pegando carona no bonde do Christopher Nolan e Cia veio Batman: O Cavaleiro de Gotham, filme ambientado entre Batman Begins e Batman: O Cavaleiro das Trevas, e os fraquíssimos Mulher-Maravilha, Superman/Batman: Inimigos Públicos e Lanterna Verde – Primeiro Voo. Desses três o filme do Lanterna é o que se sai melhor, sendo incomparavelmente superior que aquele filmeco horroroso estrelado pelo Ryan Reynolds, mas aquém da grandeza do herói. O Sinestro é de longe o personagem mais legal do filme, que tem uma pegada meio policial, tipo Dia de Treinamento. Não achei lá dos melhores, mas vale ao menos uma conferida. Eu até diria que você pode pular os outros dois tranquilamente, mas acho que vai muito do gosto individual de cada um. Inimigos Públicos, por exemplo, tem boas cenas de ação e é bem fiel ao arco de mesmo nome dos quadrinhos, mas ainda assim não conseguiu me empolgar. Incluo também nesse pacote de filmes medianos e dispensáveis os longas Liga da Justiça – A Legião do Mal, Lanterna Verde – Cavaleiros Esmeralda, Superman & Batman: Apocalipse (continuação de Inimigos Públicos) e Superman – Sem Limites. Pode ser eu que seja chato, mas comparado aos outros trabalhos do estúdio achei a qualidade da narrativa e história desses filmes bem inferiores.

why-under-the-red-hood-should-be-the-basis-for-geoff-johns-and-ben-affleck-s-solo-batman-499410Voltando aos exemplos de boas animações, temos Batman Contra o Capuz Vermelho de 2010. A adaptação dirigida novamente por Brandon Vietti consegue ser até melhor do que o arco original que trouxe o segundo Robin, Jason Todd, de volta do mundo dos mortos, se saindo bem melhor que as HQs – e fazendo muito mais sentido também ao utilizar somente o Poço de Lázaro, e esquecer toda a história envolvendo o Superboy Primordial alterar o tecido da realidade (WTF?!). Outro filme legal é Superman Contra A Elite, do diretor Michael Chang, lançado em 2012. A história questiona a real eficiência do Homem de Aço ao coloca-lo contra A Elite, um grupo de superpoderosos que usam do excesso de força bruta em sua cruzada contra o crime, sem o menor respeito pela vida humana. É uma daquelas histórias emblemáticas que mostram por que o Super é o maior herói de todos os tempos, e que sua maior qualidade não está em sua força descomunal, e sim nos seus princípios. O estilo da animação é a única falha dessa produção para mim. O traço infantilizado não combina em nada com a grandiosidade da história.

Justice_League_Gods_&_MonstersComo eu disse lá no início, foi só com Deuses & Monstros que passei a realmente me interessar por essas animações. Originalmente a ideia era escrever só sobre esse filme (mas não resisti, rs). O desenho é ótimo. O traço tá afiadíssimo. A premissa também é muito bacana, no melhor estilo dá série “E Se…”, mostrando uma realidade alternativa onde quem caiu na terra foi na verdade o filho de Zod, e não o de Jor-El. Nesse universo, ao invés do Kansas, a nave do Homem de Aço caiu na fronteira do México com os EUA, a identidade secreta do Batman não é Bruce Wayne, mas sim Kirk Langstrom (também conhecido como o Morcego-Humano), a Mulher-Maravilha é na verdade Beca, uma das deusas de Nova Gênese, e Lex Luthor está do lado dos mocinhos. A animação é recheada de porradaria e sangue para tudo o que é lado, mas também trás um olhar interessante sobre a Trindade da DC, fazendo essa versão mais violenta e quase amoral da Liga da Justiça refletir sobre seus métodos poucos ortodoxos e aos poucos descobrir o verdadeiro sentido do heroísmo. O marketing em torno do projeto foi algo que achei do cacete. Uma web série de três episódios feita em parceria com o canal Machinima, foi disponibilizada no YouTube pouco antes do lançamento em DVD como forma de promover o filme. Mas o que chamou mesmo minha atenção foi ver novamente envolvimento de Bruce Timm na produção. Para quem não conhece, ou não está associando o nome à pessoa, Bruce Timm é simplesmente o responsável pelo universo animado da DC Comics como o conhecemos. Ele é o homem por trás da clássica série animada do Batman dos anos noventa e boa parte das animações de heróis da Warner, como Superman: A Série Animada, Batman do Futuro, Super Choque e as sensacionais Liga da Justiça e Liga da Justiça: Sem Limites. Sim, o cara é foda.

Justice_League_Gods_&_Monsters_02Como chefe do departamento de animação da Warner, Timm já havia produzido diversos outros títulos (inclusive, o primeiro longa animado do Morcegão, Batman: A Máscara do Fantasma, antes mesmo da criação do DCU), mas desde que deixou seu cargo de produtor supervisor em 2013, logo após o lançamento de Batman: O Cavaleiro das Trevas (parte 2), o cara não se envolvia mais com as produções do selo DC Universe Filme Animado Original. Foi graças ao seu trabalho em “Deuses & Monstros” – que ele não só produziu como ajudou a escrever ao lado do também produtor Alan Burnett – que acabei descobrindo outros dois nomes que vem fazendo um puta trabalho legal dentro da Warner Bros. Animation: Sam Liu e Jay Oliva.

A dupla é responsável por dar um novo fôlego a essas animações, dirigindo alguns dos filmes mais legais da casa nos últimos anos. É Liu, aliás, quem assina a direção de “Deuses & Monstros”. Ele e Timm trabalharam juntos pela primeira vez no divertido Liga da Justiça: Crise em Duas Terras de 2010, onde os maiores heróis da terra enfrentam o Sindicato do Crime, uma espécie de contraparte maligna da Liga da Justiça. Esse longa parece um episódio gigante da série animada da equipe, cheio do mesmo humor do cartoon e ótimas cenas de ação. Destaque para o momento onde Batman sai na porrada com uma versão do mal da Família Marvel, vestindo uma armadura  robótica idêntica a usada pela personagem de Sigourney Weaver em Aliens – O Resgate.

Batman-The-Killing-Joke-trailer-1Coube a Sam Liu a direção do aguardado Batman: A Piada Mortal, primeiro filme dessa série de longas-metragens animados da Warner a ganhar uma classificação indicativa para maiores de 18 anos lá na terra do Tio Sam. O filme que está chegando ao mercado Home Video hoje era tão esperado pelos fãs, que por aqui que chegou a ganhar exibições especiais em cinemas da rede Cinemark no último dia 25. Em uma entrevista recente, Bruce Timm disse que essa era a animação mais sombria que a DC já tinha feito, e que eles fariam jus a obra de Alan Moore. A julgar pela reação que vem causando, tem tudo para ser uma das mais polêmicas e discutidas obras da casa por um bom tempo. Se o filme irá realmente conseguir fazer justiça a clássica Graphic Novel eu ainda não sei. Adaptar uma das mais famosas histórias do Batman certamente não deve ser uma tarefa fácil. Mas Liu já mostrou que entende do assunto e que está apto para o desafio. Em seu currículo constam duas belíssimas adaptações: Grandes Astros – Superman e Batman – Ano Um. Ambas as animações são de 2011, e podem ser consideradas verdadeiras obras-primas animadas, fidelíssimas ao material original. A primeira é a adaptação da aclamada saga do Grant Morrison, vencedora do Eisner e diversos outros prêmios, e mostra o Superman – com poucos dias de vida após cair numa armadilha do Lex Luthor – saindo numa jornada para realizar suas últimas tarefas enquanto tenta preparar o mundo para sua partida. Pouca coisa da minissérie original ficou de fora. A animação captou perfeitamente a essência da HQ e transpôs para a tela todo o clima melancólico, filosófico e sentimental da história de Morrison. É um desenho realmente atípico. Há batalhas grandiosas, sim, mas elas são seguidas de momentos de reflexão, servindo mais para ilustrar a boa índole do Super-Homem do que qualquer outra coisa. Tudo num ritmo mais lento e sutil do que a grande maioria está acostumada. Por isso talvez eu tenha gostado tanto. Grandes Astros – Superman é uma verdadeira ode ao legado do herói, indispensável para os fãs do azulão.

Grande Astros SupermanIgualmente indispensável é Batman – Ano Um, que Liu dirigiu em parceria com Lauren Montgomery. O clássico arco de Frank Miller e David Mazzcchelli é reproduzido com maestria aqui. A história narra o primeiro ano de Bruce Wayne como o Batman paralelo à luta do Ten. James Gordon contra a corrupção dentro da polícia. Eu adorei essa animação. O clima noir criado por Miller, com sua narração em off, e os traços elegantes de Mazzcchelli foram mantidos o mais próximo possível da minissérie. Tem quem reclame da falta de ousadia dessa produção (sério mesmo, galera?!), alegando que para quem leu a HQ a animação não acrescenta em nada, já que ela simplesmente reproduz na integra a Graphic Novel. Honestamente, isso é pra mim o maior de seus trunfos. Histórias boas merecem ser (re)contadas sempre. E de mais a mais, não há como errar adaptando o texto soberbo de Frank Miller. Recomendadíssimo.

Batman_Year_One_02O trabalho mais recente do diretor saiu em abril desse ano. Liga da Justiça vs. Jovens Titãs dá continuidade ao que vem sendo feito nas últimas animações do estúdio, que desde 2013 vem adaptando os arcos dos Novos 52. O longa introduz os Jovens Titãs dentro desse universo pós reboot e os coloca contra a Liga da Justiça, que se encontra possuída pelo demônio Trigon. A equipe de jovem heróis dessa vez é composta por Ravena, Mutano, Estelar, Besouro Azul e o novo Robin, Damian Wayne. A ação é ótima. A trama é simples, mas bem divertida. Contudo, achei esse o longa-metragem mais infantil dessa safra. É visível (e um pouco estranho) o esforço em dialogar com o público mais novo, incorporando mais humor e uma linguagem ainda mais similar à dos animes em algumas horas – o momento em que os Titãs vestem seus uniformes à La Sailor Moon foi bizarro. O filme, no entanto, teve um surpreendente efeito positivo, que foi me fazer parar de odiar esse novo Robin. É até engraçado, eu que vinha detestando o destaque dado ao Damian nesses últimos filmes (ah, que saudades do Tim Drake!), consegui me afeiçoar um pouco ao pirralho após o ver lutando ao lado dos Titãs. Ainda o acho um tremendo chato de galocha, mas não sinto mais vontade de ver um caminhão passando por cima do fedelho.

Justice League vs Teen TitansLiu, porém, não é o único com um currículo invejável dentro da Warner. As animações dirigidas por Jay Oliva são igualmente fodas. Só para vocês terem uma ideia, o primeiro filme do cara no DCU foi simplesmente Batman: O Cavaleiro das Trevas. A animação em duas partes (que poderia facilmente ter sido um filme de três horas e meia) é para mim o auge dessas produções. A Graphic Novel de Frank Miller foi adaptada em toda a sua glória, sem deixar praticamente nada de fora. Até o traço é bem similar ao da obra original. A história mostra o retorno de Bruce Wayne à vida de combatente ao crime, dez após sua aposentadoria, em uma Gotham City assolada pelo aumento da criminalidade. Todos os elementos da aclamada minissérie estão presentes: a nova Robin; Carrie Kelly, a gangue de criminosos conhecidos como os Mutantes, o retorno triunfal do Coringa – a cena em que ele desperta de seu estado catatônico é uma das mais memoráveis –, as questões políticas, a cobertura da mídia, e claro, o derradeiro embate com o Superman. Honestamente, dizer que essa é uma das melhores adaptações já feitas do universo do Morcegão é chover no molhado. Ela põe fácil todas as versões cinematográficas do herói no chinelo. Eu falo sério. Batman: O Cavaleiro das Trevas é uma animação obrigatória para quem leu a HQ, e altamente recomendada para quem não leu (sério, quer fazer o favor de ler logo esse clássico?!).

Dark KnightOliva tem ainda outra animação de peso em seu histórico: Liga da Justiça – Ponto de Ignição. O filme de 2013 é um dos trabalhos mais significativos da Warner com os heróis da DC Comics feito recentemente. É de longe um dos meus filmes favoritos. O roteiro é incrível. Tem momentos realmente emocionantes, daqueles de fazer muito marmanjo chorar. A animação é espetacular, com um traço bem mais próximo dos desenhos japoneses, que se tornou o padrão dos filmes do estúdio desde então. A ação é foda. Acho que é o longa mais sangrento da DC. É morte que não acaba mais. Tem para todos os gostos, de decapitação à headshot.

The_Flashpoint_Paradox_3A história é focada no drama do Flash, Barry Allen, que nunca superou o assassinato de sua mãe, quando ainda era um garoto. A oração que ela lhe ensina logo no início do filme é tão boa, que faço questão de reproduzi-la aqui: Aceite as coisas que você não pode mudar. Tenha coragem para mudar aquelas que pode mudar. E tenha a sabedoria para distinguir uma da outra. Profundo, né? Barry, contudo, não assimilou direito os ensinamentos de sua mãe. Com sua supervelocidade ele decide voltar no tempo e mudar os eventos do dia de sua morte, mas acaba desencadeando uma reação em cadeia que altera todo o curso da história criando um universo alternativo onde ele nunca ganhou seus poderes, a Liga da Justiça não existe e o mundo está prestes a ser devastado por uma guerra entre o exército de Atlantis, liderado por Aquaman, contra a Mulher-Maravilha e suas amazonas. O filme é até melhor do que a minissérie na qual se baseia, com um conteúdo bem mais adulto. Destaque para o violento e brutal Batman desta realidade, que é na verdade Thomas Wayne, o pai de Bruce. Assim como a saga nos quadrinhos, Ponto de Ignição é responsável por reiniciar toda a cronologia do universo animado da DC. A partir desse filme, todas as produções do estúdio passaram a adaptar os arcos dos Novos 52, o reboot de 2011 da editora.

Justice_League_War_02A primeira aventura nesse universo animado pós reboot é Liga da Justiça – Guerra de 2014, baseada no arco que reconta origem da equipe, escrita por Geoff Johns e desenhada por Jim Lee. A qualidade da animação é ótima, mas a história, assim como a HQ na qual ela se baseia, deixa e muito a desejar. Na trama, os heróis se reúnem para deter a invasão de um exército alienígena liderado por Darkseid. É um clichê, sim, mas que poderia ter funcionado bem melhor. O grande problema é que nada é realmente desenvolvido. Tudo é um pretexto para fazerem os heróis caírem na porrada. Não tem drama, emoção, é só um monte de cena de pancadaria, amarrada por um fiapo de roteiro. Como entretenimento até que funciona, mas para quem (assim como eu) espera algo a mais, pode se decepcionar. O longa é pelo menos melhor do que a HQ, que para mim só se salva mesmo pela belíssima arte do Jim Lee. O ritmo frenético da ação parece caber melhor num desenho de pouco mais de uma hora, assim como as piadas e momento engraçadinhos. O mais dificil de digerir pra mim é a personalidade que deram aos heróis após o reboot. O Lanterna Verde parece mais um playboy imaturo do que o patrulheiro espacial que ele já foi um dia, a Mulher-Maravilha está mais para uma versão de saia do Thor do MCU, sempre ávida por uma batalha, e dá até tristeza ver o que fizeram com Superman, que agora faz o tipo que bate primeiro e pergunta depois. A garotada deve adorar essa versão mais descerebrada e porradeira da Liga da Justiça, mas sinto falta da equipe que cresci lendo e o que ela representava. A grande mudança do filme para a HQ é a participação do Capitão Marvel, que agora atende pelo nome de Shazam, ocupando o lugar que era de Aquaman no gibi. A ausência do Rei dos Mares nesse filme é compensada em Liga da Justiça – O Trono de Atlantis, longa de 2015 que reconta a origem do Aquaman e o reintroduz nesse universo. Essa animação é tão fraca quanto Guerra, só valendo mesmo pelas cenas de luta, e por mostrar que de fracote o Aquaman não tem nada. No mais, todos os defeitos do longa anterior se repetem aqui.

Batman_Assault_On_Arkham_01Felizmente, Jay Oliva se redimiu dessas duas fracas animações com os filmes do Batman que dirigiu. Batman: Ataque Ao Arkham de 2014 é um deles. Apesar do nome, o Homem-Morcego é apenas um mero coadjuvante nessa aventura, que deveria ter se chamado “Esquadrão Suicida – O Filme”. A história mostra Amanda Waller recrutando um novo Esquadrão de criminosos, com a missão de invadir o Asilo Arkham e resgatar arquivos secretos escondidos na bengala do Charada, que o vilão roubou e ameaça divulgar na internet. Essa formação do time de foras da lei é composta por Pistoleiro, Capitão Bumerangue, Arlequina, Aranha Negra, KGBesta, Nevasca e Tubarão-Rei. O longa é basicamente um filme de assalto, no melhor estilo Missão: Impossível, só que com seres superpoderosos. É uma das animações mais adultas da DC, com direito até a cena de sexo entre a Arlequina e o Pistoleiro. Se eu tivesse que apostar diria que o filme do Esquadrão Suicida, que está estreando hoje nos cinemas, deve seguir o mesmo tom dessa animação. Divertido, porém violento e adulto. Principalmente, se pensarmos que o Pistoleiro – papel que ficou com Will Smith nos cinemas – é praticamente o protagonista dessa animação.

Batman_v_Robin_01Na sequência, Oliva dirigiu Batman vs. Robin, filme lançado no ano passado e que serve de continuação direta da animação de 2014, O Filho do Batman do diretor Ethan Spaulding, que introduziu o impetuoso Damian Wayne nesse universo animado. Assim como seu antecessor – que adaptou a sua maneira Batman & Filho de Grant Morrison –, a história é uma adaptação livre dos quadrinhos, levemente inspirado nos arcos A Corte das Corujas e A Noite das Corujas do Scott Snyder. Pra muita gente isso pode ser meio decepcionante, mas achei o resultado legal. O grande foco do filme, como o título sugere, é a relação conturbada entre Bruce e Damian. O jovem Robin luta para seguir os ensinamentos de não matar do seu pai (Justiça, não vingança!), mas não é assim tão fácil controlar o instinto assassino com o qual seu avô, Ra’s Al Ghul, o criou. A situação se complica ainda mais quando o vilão Garra entra em cena e convida o garoto a juntar-se à Corte das Corujas, uma antiga sociedade secreta de Gotham, e assim como ele executar os criminosos. A Corte em si é usada mais como o estopim para o conflito entre pai e filho do que qualquer outra coisa – talvez seja essa a explicação por não utilizarem os títulos originais. Eu gostei de como eles desenvolvem os personagens e suas relações, especialmente o peso que a criação e os traumas de cada um têm em suas condutas. Batman vs. Robin é bem melhor que o filme que o antecede, contudo, sofre de um mesmo mal: os exageros dos roteiristas. O grande problema com o Damian nesses filmes é a forçação de barra do roteiro em querer torná-lo badass. Ninguém é páreo para o moleque. Ele enfia a porrada no Asa Noturna, no Batman, nos vilões,tudo isso apesar do fato de ser apenas um garoto de dez anos de idade. Se aquele papo de que com preparo o Batman poderia derrotar todo o universo DC já era ruim de engolir com ele que é um adulto, fica bem mais dificil com um menino que ainda nem entrou na puberdade direito. Mas isso até que é tolerável diante da competência com que Jay Oliva conduz a trama, alternando ótimas cenas de ação com bons momentos dramáticos.

Batman_Bad_Blood_01O último trabalho de Oliva foi Batman: Sangue Ruim, lançado em janeiro desse ano. O roteiro pega emprestado ideias dos arcos Batman: Descanse em Paz e A Batalha Pelo Capuz. A história gira em torno do desaparecimento de Bruce Wayne, dado como morto após uma batalha contra o vilão conhecido como Herege, o que leva Dick Grayson a ter que assumir o manto do Morcego para que a cidade não mergulhe no caos em sua ausência. Oliva faz um bom serviço priorizando a relação da Bat-família, que ganha o reforço da Batwoman e Batwing, do que o mistério do paradeiro do Homem-Morcego. Os dois personagens são ainda responsáveis por trazer mais diversidade ao universo animado da DC. O Batwing, Luke Fox (filho do Lucius Fox), é o primeiro herói negro a integrar a família do Morcegão, e a Batwoman, Katherine Kane é assumidamente lésbica. Kane, aliás, é a que tem o melhor desenvolvimento ao longo da história, com direito até um romance com a det. Rene Montoya. A animação e a ação como sempre dão um show a parte. Como única falha, acho que poderiam ter explorado mais do Dick como o Batman, mas mesmo com o pouco tempo em que aparece como o herói ele prova por que é a escolha ideal para substituir o Batsy. Tem uma participação especial no final, pouco antes dos créditos, bem legal e que indica novas possibilidades para o futuro. Sou capaz de apostar como muito em breve veremos uma adaptação do arco Corporação Batman. Espero que eles tragam o Tim Drake de volta um dia, nem que seja como o Robin Vermelho. Não me conformo de terem simplesmente ignorado a existência dele.

Bruce Timm e Andre Roman

Bruce Timm e Andrea Romano

Além do fantástico trabalho de animação, outra coisa que acho importante destacar nessas produções é o incrível trabalho de dublagem. Tanto o da equipe norte-americana, regularmente dirigida por Andrea Romano – que também faz a seleção de elenco –, quanto o do time brasileiro, que tem contado com a direção de Miriam Ficher. Pra quem se garante no inglês vale a pena conferir essas animações no idioma original e ouvir as vozes de nomes como Mark Hamil – o nosso eterno Luke Skywalker e há anos o dublador do Coringa –, Bryan Cranston, Ben Mackenzie, Morena Baccarin, Michael B. Jordan, Peter Weller, Neil Patrick Harris, Jensen Ackles, Michael C. Hall, Eliza Dhusk, Yvonne Strahovski, e tantos outros que emprestaram seu talento a essas produções. As nossas versões, é claro, também não fazem feio, com a maioria contando com a competência de dubladores como Guilherme Briggs, Márcio Seixas, Duda Ribeiro, Priscila Amorim, Luiz Carlos Persy, a própria Miriam Ficher além de outros.

Justice_League_Gods_&_Monsters_01Alguns dos DVDs do selo Original Movie ainda tem ótimos bônus, como os curtas-metragens animados intitulados DC Showcase. Trata-se de animações de cerca de 10 minutos com personagens que dificilmente ganhariam seus próprios filmes solos. Entre os heróis que ganharam curtas estão Espectro, Jonah Hex, Arqueiro Verde e Mulher-Gato. Esses desenhos chegaram a ser relançados numa compilação lançada em DVD e Blu-Ray, acompanhado da animação Superman & Shazam – O Retorno do Adão Negro, curta de cerca de vinte minutos que a reconta origem do Capitão Marvel. Com exceção de DC Showcase: Mulher-Gato, todos esses curtas-metragens foram dirigidos pelo animador Joaquim dos Santos.

Quer mais um motivo para ficar animado com as animações da DC Comics? Durante a Comic-Con desse ano a Warner anunciou três novos filmes que pretende lançar até dezembro de 2017. São elas: Liga da Justiça Sombria, que terá o retorno do ator Matt Ryan como John Constantine; Teen Titans: Judas Contract, que pelo nome deve adaptar o clássico arco de mesmo homônimo escrito por George Pérez e Marv Wolfman; e Batman & Harley Quinn, longa que será escrito pelo próprio Bruce Timm, criador da personagem ao lado de Paul Dini. A animação da Liga da Justiça Sombria, aliás, ganhou um vídeo de oito minutos mostrando os bastidores da produção.

É ou não é para ficar animado?

Bom, por hoje é só galera. Desculpem pelo texto gigante, mas estava querendo fazer esse post faz um tempão. Espero que tenham curtido.

Até a próxima!

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