A terceira aventura do Bandeiroso é o melhor filme do Marvel Studios até aqui!
Aviso: O texto abaixo contém spoilers, leia por sua conta em risco.
Dando sequência a retomada de atividades do blog, hoje tem review aqui no Procrastinadores. Fiquem atentos, pois vai ter uma enxurrada de textos saindo por aqui nas próximas semanas para compensar esse longo período em que estivemos inativos. Considerem-se avisados!
E que jeito melhor de recomeçar, se não falando sobre um dos maiores blockbuster de 2016. Sim, estou me referindo a Capitão América: Guerra Civil. O filme estreou nos cinemas em abril, mas é obvio que eu não podia deixar de escrever sobre um dos longas mais aguardados do ano pelos fãs de quadrinhos. Ainda mais quando ele é simplesmente incrível. Já virou meio que praxe dizer isso, mas a Marvel se superou. Guerra Civil é sem dúvidas o melhor filme do estúdio. É melhor do que Guardiões da Galáxia, do que Era de Ultron, e até mesmo do que o primeiro Os Vingadores.
Lembram quando o Samuel L. Jackson apareceu como o Nick Fury na cena pós-créditos do primeiro Homem de Ferro, lá em 2008, e a idéia de um universo compartilhado começou a fervilhar na cabeça de todos os nerds ao redor do globo? Como foi épico ver os Vingadores juntos pela primeira vez em um filme, lutando lado a lado? Pois é, Guerra Civil evoca esse mesmo sentimento de euforia e excitação, mas se sobressai por poder utilizar tudo o que o estúdio fez nos últimos oito anos no cinema como background. Não é como se você precisasse ter assistido a todos os doze filmes lançados pelo Marvel Studios para entender a história. O longa funciona sozinho. Mas agrega muito mais peso à narrativa conhecer as histórias e os eventos que levaram as coisas até esse ponto. Sim, todo aquele lance de continuidade está lá, e olha, é muito bem utilizado. De certa forma, a terceira aventura solo do Capitão América é a produção que melhor justifica a existência de um universo compartilhado. O filme em si já é bom, mas quando visto como parte desse algo maior, Guerra Civil cresce absurdamente em relação aos outros projetos da casa. Ele se conecta perfeitamente com tudo o que foi construído até aqui, adicionando novas dimensões e dramas aos personagens e interligando ainda mais as histórias. É tanto uma continuação a altura para o Soldado Invernal, quanto uma espécie de Vingadores 2.5, já que se situa logo após os eventos de Era de Ultron. E como se não bastasse é a introdução do Homem-Aranha (Tom Holland) e do Pantera Negra (Chadwick Boseman) no MCU.
Como eu esperava o filme não é uma adaptação literal do arco dos quadrinhos. Para muita gente isso pode ter sido frustrante, já que os eventos da versão cinematográfica não têm a mesma escala dos gibis, mas é só prestar um pouco mais de atenção para perceber como além do título, o cerne da história escrita pelo Mark Millar também está lá. Mais do que heróis saindo no tapa, a saga dos quadrinhos falava sobre conflitos ideológicos levados as últimas consequências, direitos civis, liberdade e responsabilidade. Todos esses temas acabam aparecendo nas telas mesmo que de forma diferente.
Sai a idéia do registro de super-humanos – o que convenhamos, não faria o menor sentido tendo em vista que no universo cinematográfico poucos têm de fato uma identidade secreta para preservar – e entra em cena o tratado de Sakóvia, que visa supervisionar as ações dos Vingadores após uma missão mal sucedida do grupo na Nigéria resultar na morte de civis.
Essa é uma das primeiras mudanças em relação ao material original que eu achei legal para caramba. Ao invés de um grupo de super-heróis qualquer tentando chamar atenção para o seu reality show, quem desencadeia o trágico evento que acaba sendo a gota d’água contra os Vingadores é um rosto conhecido. Tentando salvar o Capitão América (Chris Evans) do Ossos Cruzados (Frank Grillo), a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) faz merda, e acaba detonando um prédio e matando um bocado de inocentes. Isso pra mim teve muito mais impacto. Nós sabemos que ela está do lado dos mocinhos, e que obviamente só queria ajudar. Mas o argumento do governo até que faz sentido dentro desse contexto: “Vocês são poderosos demais para operar sem nenhuma supervisão”.
É lógico que a discussão entre assinar ou não o tratado acaba dividindo o grupo. A forma como cada um reage a essa proposta é totalmente coerente com tudo o que vimos até agora nos cinemas. Na verdade, eu acho que os argumentos ficaram até melhores resolvidos aqui do que nas HQs, onde o Homem de Ferro e o Capitão América alternavam para ver quem fazia mais burrada. No filme é compreensível a razão do Tony Stark (Robert Downey Jr.) votar a favor de ser supervisionado. Ele foi o responsável pela criação do Ultron, e consequentemente, as milhares de pessoas mortas por ele. É visível o peso da culpa no olhar dele quando uma mãe o confronta sobre seu filho morto na batalha em Sakóvia. Por outro lado, Steve Rogers está coberto de razão ao dizer que concordar com o tratado é apenas transferir a responsabilidade para terceiros, e que eles deveriam se responsabilizar por suas ações.
Todo esse debate sobre responsabilidade e supervisão é muito bem trabalhado pelo roteiro. Além de gerar ótimos dilemas morais e criar o clima de animosidade entre os dois lados, injeta mais dramaticidade a história. O arco do Bucky (Sebastian Stan), por exemplo, é um dos mais trágicos nesse sentido. Seria justo responsabilizá-lo pelos crimes que ele cometeu enquanto esteve sobre o domínio da Hydra?
É bom ver que mantiveram o tom maduro de Soldado Invernal. Eu adoro a fórmula do Marvel Studios, com seu típico bom humor, mas gostei da forma como equilibraram as piadas com essa pegada mais séria. O filme tem uns toques de thriller político, mas ainda sim consegue ser divertido como os filmes que o estúdio habitualmente faz. O humor é pontual, e em nenhum momento compromete a seriedade ou gravidade dos eventos, e ainda consegue dar um tempero todo especial ao filme. A participação do Paul Rudd, por exemplo, é ouro puro, graças ao carisma e timing cômico perfeito do ator.
Mas o melhor momento do filme é mesmo o embate entre os heróis. Puta merda, o que é aquele quebra pau no aeroporto? Os irmãos Anthony e Joe Russo já provaram que são ótimos com cenas de ação no filme anterior, mas dessa vez eles estão de parabéns. A perseguição que abre o filme é digna da franquia Bourne, a luta entre o Bucky, Pantera Negra e Capitão América no telhado é animal, mas cacete, a cena com os heróis se engalfinhando é simplesmente uma das melhores lutas em um filme baseado em quadrinhos. Quiçá a melhor. O modo como ela foi filmada é simplesmente sensacional. Diferente de tantos outros filmes que também utilizam computação gráfica é possível distinguir tranquilamente os personagens e seus movimentos durante a ação. A fluidez com que os irmãos Russo filmam favorece o entendimento de como cada personagem utiliza seus poderes em combate e toda a dinâmica que se estabelece entre eles, já que um acaba auxiliando o outro na hora da briga. É incrível ver o espetáculo visual que a dupla coreografou. Do Homem-Aranha piadista que já chega tirando onda com a cara do todo mundo, passando pelo fodástico Pantera Negra com sua roupa de vibranium, ao Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) arremessando o Homem-Formiga (Paul Rudd) em uma de suas flechas é tudo muito bem coordenado, combinando perfeitamente ação e comédia. Isso sim que é entretenimento. E como é bom constatar que os trailers dessa vez não estragaram as grandes surpresas do filme. Teve uma hora no meio da batalha que eu me segurei muito na poltrona do cinema para não gritar de alegria. Sério. Eu meio que já esperava ver o Scott Lang se transformando no Gigante num futuro próximo, mas quando a transformação ocorre e o herói diminuto aumenta de tamanho no meio da porradaria foi impossível para mim não ostentar um sorriso de orelha a orelha de felicidade. Foi simplesmente foda!
Eu gostei das lutas em Era de Ultron? Sim, pra cacete. Aquelas cenas à lá Splash Page foram papel de parede do meu notebook por um bom tempo. Mas há de se convir que há um peso bem maior ao ver amigos lutando um contra o outro, do que heróis saindo na porrada contra um exército de robôs descartáveis. A escala dos eventos é menor nesse filme, a humanidade não está sendo ameaçada de extinção e, no entanto, aqui você sente como se houvesse muito mais em jogo. Os conflitos passam mais urgência. Principalmente, por que a todo tempo se tem a sensação de que não importa qual lado de fato ganhe, não haverá vencedores. Essa é uma das vantagens em se ter um confronto nesse nível pessoal. É extremamente difícil escolher um time nesse filme, por que nos importamos e entendemos as motivações dos dois lados. E o roteiro é competente em dar argumentos plausíveis que justifiquem tanto as ações do Capitão América quanto as do Homem de Ferro.
Até as ações do vilão nesse filme tem lá sua justificativa. O Barão Zemo do Daniel Brühl tem muito pouco a ver com sua contraparte nos quadrinhos, mas ainda sim adorei o que fizeram com o personagem. Esqueça o nazista e líder dos Mestres do Terror. Esse é um personagem completamente diferente. As motivações dele podem até soar repetitivas, mas funciona dentro do contexto do filme. E até emociona. O plot twist no final te faz solidarizar com o sofrimento cara. E no final das contas, quem diria, ele acabou sendo o vilão mais bem sucedido desse universo cinematográfico depois do Loki. Afinal, seu plano de fazer os Vingadores se destruírem culminou na separação do grupo, fez a opinião pública se voltar contra os eles e de quebra ainda resultou na prisão da maioria dos heróis num super presídio no meio do oceano. Se seu arco não tivesse sido tão bem concluído dentro filme – o que torna pouco provável seu retorno – seria interessante vê-lo novamente como vilão. Quem sabe talvez usando sua famosa máscara púrpura.
Outro que quero muito ver de novo é o Pantera Negra. O personagem é um dos grandes acertos do filme. Seu visual está fantástico e extremamente fiel aos quadrinhos, assim como sua personalidade. Chadwick Boseman transmite toda a imponência necessária que o T’Challa exige. A idéia de colocar ele para fazer às vezes do Homem-Aranha como o herói que muda de lado no decorrer da história foi ótima. O Pantera é o personagem que mais evolui no decorrer da trama ao compreender que a vingança nunca é o melhor o caminho. Provavelmente irão explorá-lo com maior riqueza de detalhes em seu filme solo, mas de forma simples e direta Guerra Civil estabelece o personagem e seu universo com enorme sucesso. Com direito até à vislumbres de Wakanda na cena pós-crédito.
Mas sim, quem rouba mesmo a cena é o Homem-Aranha. A reação da galera na seção que assisti ao filme, vibrando alucinadamente a cada vez que ele aparecia, resume bem o que eu achei dessa nova versão do aracnídeo. É realmente espetacular. Tom Holland tem tudo para ser o Aranha definitivo dos cinemas. A dobradinha que ele faz com o Robert Downey Jr. é impagável. A cena do recrutamento dele é hilária e diz tudo o que precisamos saber sobre o personagem sem precisar recontar sua origem. Eu particularmente gostei de como eles modernizaram a relação dele com a Tia May (Marisa Tomei) – que sim está bem mais jovem e gata – fazendo ele a chamar apenas de May. Nas poucas cenas em que aparecem juntos é nítida a química entre eles. Mas o ápice da participação do Homem-Aranha é em batalha. As piadas, o jeito moleque, o seu deslumbramento por estar ao lado de outros heróis, o modo como ele luta é tudo o que você sempre esperou ver numa versão para os cinemas do amigão da vizinhança. Bendito seja o acordo feito entre a Sony e a Marvel que possibilitou isso. Como fez diferença o escalador de paredes ter voltado para as mãos de pessoas que realmente entendem e se importam com o personagem. A expectativa para Spider-Man: Homecoming só aumentou.
Fica difícil dizer se todos esses elementos teriam funcionado juntos com outros diretores. É preciso reconhecer o talento dos irmãos Anthony e Joe Russo, não só em criar engenhosas cenas de ação, mas em saberem dosar muito bem o tempo de tela de cada personagens sem nunca perder o verdadeiro foco do filme, que é desenvolver a história do Capitão América. Por que sim, esse ainda é um filme dele. É seu senso de moralidade e sua lealdade que guiam a história. É a sua fibra na hora de defender o que acredita ser o certo, se plantando no chão feito uma árvore como bem diz a Sharon Carter (Emily VanCamp) – num discurso idêntico ao feito pelo Steve Rogers nos quadrinhos – que nos faz lembrar o porquê dele ser o líder dos Maiores Heróis da Terra. A sua indignação ao modo como tratam a Wanda, o empenho com que ele defende o Bucky e tenta provar sua inocência é inspirador. É na atitude do Capitão América para com os seus que reside boa parta do coração e força do filme. E talvez seja por isso que ver o rompimento de sua relação com o Tony Stark seja tão triste. A luta final do filme não tem a mesma escala da cena do aeroporto, mas sinceramente, é bem mais devastadora. Você entende o os dois lados, sabe que as coisas poderiam ser resolvidas de outra maneira, mas ao mesmo tempo como não terminar daquele jeito? A expressão de raiva e mágoa no rosto do Robert Downey Jr., pouco antes de desferir um murro na cara do Capitão é sensacional. Quem no lugar dele conseguiria reagir diferente? Ah, the feels, man.
Guerra Civil é um encerramento fantástico para a trilogia do Capitão América. É um filme de heróis, mas trata acima de tudo sobre amizades, responsabilidades e perdas. Não termina de forma tão trágica como nas HQs, mas é certamente o filme que trás mais consequências para o MCU, com Tony Stark sozinho de um lado, o Steve Rogers foragido da justiça – possivelmente liderando a versão cinematográfica dos Vingadores Secretos – e a relação entre a maioria dos heróis abalada, vide o caso da Wanda e do Visão (Paul Bettany). Divertido, com atuações e um roteiro forte, direção impecável e cenas de ação de cair o queixo é certamente o melhor filme do Marvel Studios, e um dos fortes candidatos a melhor do ano. E pensar que esse é só o início da Fase Três da editora nos cinemas.
Gostei muito mais de Soldado Invernal, eu teria feito este filme totalmente diferente, mas seguindo o que fizeram eu teria trocado o 2º pelo 3º, fazendo no 2º ato o desfecho do arco entre o Stark e o Rogers/Bucky, e o 3º ato com a briga entre os heróis, pois aí sim faria mais sentido e teria mais impacto toda a rivalidade entre os personagens, mas como é filme da Disney ainda sim gostei, mas poderia ter sido muito melhor.
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Olá Dudu!
Cara, particularmente, eu gosto da estrutura do filme como foi, mas entendo o seu ponto. Obrigado pela visita e pelo comentário! 😀
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