Fala aí, galera! Dia desses andando pelo Méier achei uma barraquinha dessas que vendem revistas e gibis antigos. Fazia um bom tempo que não via os formatinhos de super-heróis por aí então acabei comprando alguns. Foi só folhear algumas edições velhas do Home-Aranha para bater aquela nostalgia dos tempos de moleque em que passava horas enfiado em bancas de jornal garimpando números atrasados, ou algo que eu ainda não tivesse lido. Nessa época meu maior sonho era ser quadrinista. Foram horas da minha vida que passei debruçado sobre papéis e pranchetas, tentando reproduzir os traços que eu via nas páginas dos gibis que eu colecionava. Bom, no final das contas acabei não ganhando a vida desenhando como achava que faria quando era garoto. Ainda desenho esporadicamente, mas com uma frequência cada vez menor (Vocês podem conferir alguns desenhos meus aqui, se quiserem). É inegável, no entanto, o quanto alguns dos artistas que eu lia naquela época me influenciaram, e ainda conseguem me encantar com sua arte até hoje. E como fazer lista é um dos meus passatempos favoritos, montei uma lista com os meus 10 ilustradores favoritos. Tem de tudo um pouco, de cartunista à mangaká. Simbora!
10. Alex Ross
Acho que nenhum outro ilustrador de quadrinhos mereceu tanto que seus desenhos fossem considerados verdadeiras obras de arte quanto Alex Ross. Seu trabalho é inegavelmente um dos mais originais e revolucionários da nona arte. Seu estilo hiper-realista é inconfundível e sedimentou seu nome na história das HQs. Suas pinturas parecem fotografias de tão realistas. Seu estilo clássico inspirado no visual dos anos cinquenta é um show a parte. Seja pela fisionomia de seus personagens, que se assemelha bastante ao da época, ou pelo estilo retrô dos edifícios. Dono de um traço primoroso, sua arte evoca grandiosidade como eu nunca vi igual. O modo como ele compõe suas cenas, com enquadramentos que valorizam a austeridade de seus personagens é algo que sempre me encantou. Isso para não falar nas cores e efeitos que o cara obtém apenas com aquarela, e suas proporções praticamente perfeitas. Poucos artistas conseguem ser tão bons assim. Ao lado do roteirista Paul Dini fez histórias memoráveis, como Batman: Guerra ao Crime, Superman: Paz Na Terra e Mulher-Maravilha: O Espírito da Verdade. Mas seus trabalhos mais icônicos são sem dúvidas, o clássico O Reino do Amanhã, feito em parceria com Mark Waid, e Marvels, do roteirista Kurt Busiek. Ambas são verdadeiras obras-primas dos quadrinhos. O traço realístico de Ross dá mais ênfase ao caráter humano que as duas histórias têm, e ajuda a criar a sensação de que somos testemunhas oculares desses contos, nos colocando na perspectiva de seus protagonistas, homens comuns num mundo repleto de super seres. Nunca vou esquecer o impacto que Marvels causou em mim quando eu li pela primeira vez, especialmente a edição centrada nos X-Men. Quanto mais eu olho para a arte embasbacante de Alex Ross, mais eu me dou conta de que não desenho é nada…
09. Kevin Maguire
Um dos artistas mais talentosos dos anos 80, Kevin Maguire vai ter para sempre um lugar reservado no meu coração graças a sua passagem pela Liga da Justiça Internacional (Só de pensar nela já me vem o famoso Bwah-ha-ha-ha na cabeça). Ao lado de seus parceiros Keith Giffen e J.M. DeMatteis o cara é simplesmente imbatível. Seu traço é um dos mais expressivos que eu já vi. Em uma época onde os super-heróis eram todas sérios e carrancudos, a Liga desenhada por ele era um sopro novo de vida. O texto em si já era bom, mas a arte de Maguire tornava tudo ainda melhor. O cara é um mestre em desenhar expressões faciais e conseguia obter resultados hilários. Os quadros muitas vezes não precisavam de uma linha sequer de diálogo que ainda assim eram engraçadíssimos, só pela forma como ele desenhava os personagens. Era Maguire quem dava o tom das piadas. Ah, como eu sinto falta daquela formação da Liga da Justiça. Da tiração de sarro com Ajax, da canastrice do Maxwell Lord, do Guy Gardner, o melhor Lanterna Verde de todos os tempos – sim, lidem com isso – e claro, da dupla Besouro Azul e Gladiador Dourado. Maguire revisitou esses personagens com seus amigos alguns anos atrás nas hilárias minisséries “Já Fomos a Liga da Justiça” e “Não Acredito Que Não É a Liga da Justiça”. É ouro puro. Apesar de ser muito associado a esses trabalhos cômicos, Maguire é um puta artista completo. Reparem na noção do cara de anatomia, nos detalhes que ele coloca em seus desenhos. Ele é foda. Uma grande inspiração.
Bill Watterson talvez seja um dos nomes mais reclusos e geniais desse Top 10. O único cartunista da minha lista, Watterson figura em oitavo lugar no meu ranking de ilustradores tanto pela elegância e beleza do seu traço, quanto pelo modo como ele é capaz de emocionar e ocasionar altas reflexões sobre a vida da forma mais lúdica e singela possível, através do olhar de um garoto e seu tigre de pelúcia. Antes de me apaixonar pelos quadrinhos de super-heróis, eu era vidrado nos gibis da Turma da Mônica, Tio Patinhas, Recruta Zero, e claro, as tirinhas do Calvin & Haroldo. Elas eram o ponto alto das minhas manhãs de domingo. Conforme fui crescendo passei a admirar ainda mais o trabalho do Watterson. Quem já leu as tirinhas, ou algum dos vários álbuns estrelados pela dupla lançada aqui no Brasil pela Conrad, conhece bem seu talento. Sua arte é linda. Simples e linda. E uma das poucas capazes de fazer muito marmanjo chorar de verdade. Está aí a “História do Quati” (The Raccoon Story) que não me deixa mentir.
07. Frank Cho
Frank Cho é um artista polêmico. Conhecido por suas ilustrações mega sensuais de super-heroínas, em poses para lá de sugestivas, Cho já chegou a ser suspenso do Facebook por conta de suas postagens. Volta e meia ele acaba irritando uma galera (e vamos convir que com razão), como na vez que tomou partido do Manara e publicou diversas ilustrações homenageando a controversa capa da Mulher-Aranha feita pelo artista italiano. Mas acontece que mesmo comprando briga com outros artistas a troco de nada, e hipersexualizando gratuita e assumidamente personagens femininas, temos que dar o braço a torcer que o cara é um puta ilustrador. Seu traço combina beleza e detalhismo com maestria. Prova disso é sua sensacional arte no prólogo de Vingadores vs. X-Men. E ele ainda é um bom escritor quando quer realmente. Sua série de tirinhas Liberty Meadows é legal para caramba, recheada de um humor nonsense, que ganha ainda mais vida graça a sua habilidade para desenhar os mais variados tipos de expressões faciais. Se ao menos o cara não gostasse tanto de perder tempo criando polêmicas desnecessárias e alimentando as fantasias onanísticas da garotada…
06. John Byrne
John Byrne é um dos mais influentes artistas da Era de Bronze dos quadrinhos. O cara é uma lenda. Um artista completo. Byrne não é só dono de um traço belo e preciso, como é um escritor de mão cheias. Ele é coautor ao lado de Chris Claremont do arco da Fênix Negra, uma das maiores sagas dos X-Men de todos os tempos; é o criador da Tropa Alfa, a força mutante canadense; é o responsável por uma das melhores fases do Quarteto Fantástico e do Incrível Hulk; além de ser em minha opinião o autor da origem definitiva do Super-Homem, na minissérie O Homem de Aço. Lembro que na época de escola muitos colegas meus torciam o nariz para quadrinistas mais antigos, mas eu sempre curti esse estilo meio vanguardista. Byrne consegue combinar algo de moderno e clássico, num traço elegante e limpo, que para mim era sinônimo de quadrinhos, e por tabela, minha grande referência. O cara foi durante um bom tempo uma das minhas maiores influências no desenho.
05. Jim Lee
Outra lenda viva. Jim Lee é um dos maiores nomes dos quadrinhos dos anos noventa. Foi um dos fundadores da Image Comics, criou e escrevia ao lado de Brandon Choi as histórias do Gen 13, e ilustrou diversos títulos ao longo dos anos, como Superman, Batman, e a versão da Liga da Justiça dos Novos 52. O primeiro contato que tive com sua arte foi em sua passagem pelos X-Men lá no início da década de 90. Sua fase é uma das minhas favoritas do grupo, com os mutantes viajando ao espaço para reencontrar o Professor Xavier, e o Magneto se bandeando para o lado dos mocinhos, liderando os Novos Mutantes. Toda a fase que teve início com a edição 72 dos X-Men, publicada pela antiga Editora Abril vai ter sempre um espaço reservado no meu coração. O traço do Lee era arrebatador. E continua sendo. Tem muita gente, no entanto, que considera seu estilo meio desgastado. Não tanto por sua causa. O fato é que devido a sua enorme popularidade, Lee foi copiado até a exaustão por uma infinidade de outros artistas (incluindo esse pobre aspirante de desenhista que vos escreve). Também pudera, seu traço parece o ideal para gibis de Super-Heróis. Proporções levemente exageradas, heróis mega musculosos com ar de mal encarado, heroínas para lá de sensuais, e cenas de ação de cair o queixo. Sério, nenhum outro desenhista faz o Wolverine parecer tão badass quanto o cara. Muitos podem até ter tentado reproduzir seu estilo ao longo dos anos, mas Jim Lee, meus amigos, só existe um.
04. Renato Guedes
O único artista nacional na minha lista, Renato Guedes é um dos grandes nomes da atual geração de desenhistas brasileiros. O traço desse cara é incrível. Conheci seu trabalho nas páginas da HQ da série Smallville – Sim, isso existiu. E, sim, eu colecionava. – e imediatamente virei seu fã. Renato conseguia recriar com uma impressionante perfeição as feições dos atores do elenco. Era absurdo. Esse estilo hiper-realista fez com que ele trabalhasse na adaptação de outras séries de televisão como 24 Horas e Stargate. Lembro de ler algumas entrevistas dele na época, na qual ele afirmava que fazia muito estudo com fotografias de todos os ângulos até ser capaz de memorizar de cor cada detalhe dos personagens. Apesar de nunca ter conseguido chegar aos seus pés, essa dica foi muito útil para mim – mesmo que eu ainda precise até hoje do maior número de referências na hora de desenhar. Guedes trabalhou para a DC à frente de títulos importantes como Action Comics (lendária revista onde o Homem de Aço foi publicado pela primeira sua vez), Supergirl, Lanterna Verde e mais recentemente Constantine, além de ter ilustrado algumas edições de Vingadores Secretos para a Marvel. Em todos esses trabalhos sua arte se manteve soberba. A beleza de seu traço é que o destaca da maioria. Ele tem um estilo elegante, extremamente detalhista. Reparem no drapeado do uniforme e nas expressões da Supergirl na imagem aí embaixo. Sério, como eu babo nos desenhos desse cara. Um dia ainda compro seu Artbook e o coloco com gosto em minha prateleira.
03. Akira Toryama
Akira Toryama é um dos mais influentes artistas de todos os tempos. Se não fosse por ele e sua obra eu provavelmente nunca teria me dedicado tanto ao desenho. Eu sempre gostei de desenhar, mas foi com Dragon Ball Z que a coisa começou a ficar realmente séria. Era um tal de comprar revistas de animes e virar dia e noite desenhando que não tinha mais fim. Como quase todo moleque daquela época eu conheci o trabalho do Toryama por conta do desenho que passava nas tardes da Band. Mas foi só quando li o mangá que me dei conta do verdadeiro talento do cara. O mangá é incrível. O traço único e inconfundível do Toryama fica ainda mais bonito em preto e branco. Conheço muita gente que considera o seu traço simples demais, e acho isso uma puta injustiça. Acho que essa galera não percebe como sua arte se destaca pela originalidade. É impossível não reconhecer um trabalho seu. O traço do Toryama tem personalidade. Seus desenhos são estilosos. Os cenários e as cenas que ele cria além de belíssimos, são ricos em detalhes. Eu adoro como ele mescla uma estética meio futurista/retro com elementos fantásticos. É genial. Toda essa sofisticação aliada a sua enorme popularidade acabaram o levando a trabalhar projetando os designs dos jogos Dragon Quest e Chrono Trigger. Graças ao meu fanatismo por DBZ acabei me aprofundando muito em sua obra e conheci também sua primeira grande série de sucesso, Dr. Slump. Esse mangá até chegou sair no Brasil pela Conrad, mas acabou sendo cancelado na metade. Uma pena, pois é um dos trabalhos mais legais e divertidos do Toryama. A personagem principal, a pequena andróide Arale, já deu as caras em Dragon Ball, inclusive. Toryama foi durante um bom tempo um dos caras que mais admirei nesse mundinho nerd, não só pelo seu talento, mas por sempre se mostrar um cara super pé no chão e gente boa nas entrevistas. Boa parte dos fãs ficaram surpresos um tempo atrás quando ele disse que estava saturado da violência de sua maior criação. Eu tenho que dizer que concordo em ele em gênero, numero e grau. Acho que eu devo ser um dos poucos no mundo que preferem Dragon Ball à Dragon Ball Z. Amos os dois, mas prefiro mil vezes mais o clima inocente das aventuras vividas por Goku, Bulma, Yamcha e Oolong às batalhas entre Super Sayajins. Mas independente de qual seja sua obra favorita dele uma coisa é certa, o talento de Akira Toryama é inegável.
02. Carlos Pacheco
Depois do Akira Toryama, Carlos Pacheco talvez tenha sido o artista que eu mais tenha tentado emular o estilo. O traço do desenhista espanhol é simplesmente sensacional. Eu o conheci nas páginas de X-Men lá nos idos anos noventas E foi amor a primeira vista. Digam o que quiserem dos quadrinhos daquela década, mas eles souberam como produzir artistas de calibre. Ô época boa! Pacheco se destacava para mim por conta do seu traço forte e preciso. Seu estilo mais limpo e dinâmico sempre me fascinou. O cara passou por diversas editoras, e trabalhou em títulos como Superman, Vingadores, Quarteto Fantástico, sempre me embasbacando com seu dom. O Quarteto desenhado por ele, aliás, é foda para cacete. Mas seu trabalho o qual mais gosto é mesmo sua passagem pelos mutantes. Eu sempre senti que nas mãos dele, os filhos do átomo ganhavam mais expressividade. Leiam a saga Operação Tolerância Zero e vejam do que estou falando. Eu gosto como suas poses valorizam bem a musculatura dos personagens, mas sem exageros. Quem acompanha seu trabalho percebe como no decorrer dos anos ele amadureceu seu traço, o tornando mais realista e simplificando um pouco o seu estilo – eu mesmo quase não reconheci seus desenhos durante a saga Cisma. Particularmente, eu prefiro o Pacheco dos anos noventa, mas independente da época ou do título que ele esteja à frente, o cara é foda. Disparado um dos meus ilustradores favoritos.
01. Katsuhiro Otomo
E o topo não poderia ser de outro se não Katsuhiro Otomo. Akira é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. O impacto que a animação teve sobre mim foi enorme. Eu cresci apaixonado pelo OVA. Eu tive uma cópia do filme em VHS, tenho a edição de aniversário em DVD, mas minha cabeça explodiu mesmo quando eu li o mangá lá pelo início do meu 2º Grau. Como se já não bastasse a história do mangá ser superior em todos os sentidos ao filme, a arte de Otomo é uma coisa de outro mundo. Sério, o cara é animal. Seu traço é uma das coisas mais impressionantes que eu já vi. A riqueza de detalhes com que ele desenha prédios, construções e veículos é coisa de louco. A arquitetura de Neo-Tóquio fica ainda mais bonita em preto e branco. Aliás, os efeitos que ele obtém apenas com preto, branco e alguns tons de cinza são fora de série. Eu realmente ficava horas contemplando as páginas do mangá, só admirando o trabalho do cara. Ele ainda é um escritor de mãos cheias. Graças a minha paixão por Akira, fui ler outros de seus trabalhos, como Mother Sarah, título ao qual ele assina apenas como roteirista. Vale muito à pena conferi-la. A história também ambientada em um futuro distópico, mesmo não sendo desenhando por ele é muito boa. Em reconhecimento ao seu trabalho, em 2012, o autor se tornou o quarto mangaká a ser introduzido no Eisner Award Hall of Fame – honraria máxima para quem trabalha com histórias em quadrinhos. Otomo também tem uma carreira muito bem sucedida em filmes e séries. Além de Akira, dirigiu o curta-metragem Cannon Fodder, um dos três segmentos presente no filme Memories (1995), e as animações Metropolis (2001), Steamboy (2004) e a versão live-action do anime Mushishi (2006). Dono de um traço invejável e uma carreira de sucesso, não há duvidas do porque dele ser um dos artistas mais influentes de sua época e minha grande inspiração no mundo das artes. Primeiro lugar mais que merecido.
É isso, galera! Esses são meus os dez ilustradores favoritos. Claro que tem muita gente talentosa que ficou de fora. Nomes como o grande Mike Deoadato, Ed Benes, Joe Madureira, Roger Cruz, Ivan Reis, Todd McFarlane, Adam Kubert, Stuart Immonen, Manara, Kentaro Miura e tantos outros desenhistas fodas. Mas esses caras aí de cima… Esses dez… Putz, esses são parte da razão de eu ainda amar desenhar e ler quadrinhos. Espero que tenham gostado.
Até a próxima