Crítica | Gotham – 2ª Temporada

Gotham_banner_202. MédioAviso: O texto abaixo contém spoilers, leia por sua conta em risco.

Eu tenho que ser honesto, eu tinha desistido de Gotham ainda na primeira temporada. A série começou bem, mas se perdeu feio pelo caminho. Foi só por muita curiosidade que resolvi conferir a estreia do seu segundo ano, e olha, fiquei realmente impressionado com o quanto ela melhorou de uma temporada para a outra.

Bruce_Jumping_01Para mim, grande erro do primeiro ano foi o rumo que os personagens tomaram, presos em tramas arrastadas e desinteressantes, como a Fish Mooney (Jada Pinkett Smith), por exemplo, que de uma hora para outra ficou sem função nenhuma na série. O início dessa temporada, no entanto, intitulada rise of the vilains, parece ter aprendido com os erros do passado e soube amarrar bem seu arco principal. A trama envolvendo a libertação dos criminosos do Asilo Arkham orquestrada pelo milionário Theo Galavan (James Frain) sozinha já é melhor que toda a primeira temporada. Galavan em si foi um vilão chato, mas sua presença conseguiu movimentar a história de forma interessante.  Além de ser o responsável pela criação do Maniax, o primeiro grupo de vilões de Gotham, Theo é a razão de Gordon (Ben McKenzie) e o Oswald Cobblepot (Robin Lord Taylor), o Pinguim, estreitarem suas relações, numa aliança interessante que mostra o Detetive não só operando às margem da lei como tendo que sujar as mãos de sangue para deter os bandidos. Sim, James Gordon, agora mata (eu volto a esse ponto mais para frente).

gotham-ep204_scn21_251_hires2É graças a Galavan também que podemos ver mais claramente o amadurecimento de Bruce Wayne (David Mazouz, ótimo), como quando ele desmascara Silver St. Cloud (Natalie Alyn Lind), e sua aproximação de Selina Kyle (a excelente Camren Bicondova). O elenco juvenil, aliás, continua dando um show a parte, com ótimas atuações. A dinâmica da relação entre o jovem Bruce e Selina é uma das coisas mais bem resolvidas da série.

Gotham_26pt-Bruce-warehouse_JN0245_hires1Ainda sobre o vilão, também gostei da ideia de fazerem de Galavan um membro da Ordem de São Dumas – embora ache que a representação feita da Ordem lembre muito mais a Corte das Corujas. A partir do momento em que ele revelou quem era e que seu verdadeiro intuito era vingar-se dos Wayne dei como certa a aparição do Azrael na série. Dito e feito. Após ser assassinado por Gordon, Galavan retorna a vida como a versão da série do personagem. E vejam só, funcionou. Ainda que eu odeie a ideia de que Azrael seja a inspiração para o jovem Bruce criar o Homem-Morcego no futuro (precisavam mesmo deixar isso tão implícito?), curti o visual do personagem e o arco todo em si.

bal-gotham-fall-finale-photos-worse-than-a-crime-20151130-1920x1080Agora o que eu realmente tive muita dificuldade em aceitar, mas confesso que após um tempo acabei comprando a ideia foi a construção do caráter do James Gordon nessa temporada. Eu tinha tudo para odiar o que fizeram com o personagem. A ideia de um Gordon que mata, que transgride as leis, contradiz tudo o que o personagem representa nos quadrinhos. Jimbo sempre foi uma bússola moral numa cidade infestada de corrupção. Uma luz de esperança muito antes do Batman surgir. Fazê-lo matar Galavan não é só atestar que ele que não acredita mais no sistema. É dizer que o homem que não sucumbiu nem mesmo quando o Coringa aleijou e estuprou sua filha em A Piada Mortal, se corrompeu. Tá, então, por que diabos eu acabei gostando dessa versão? Bom, em parte por que ela segue aquela mesma teoria de heróis quebrados e imperfeitos que eu tanto curti em BVS. Gordon é jovem, ainda tem tempo para aprender com seus erros. Mesmo preferindo que ele não tivesse cruzado essa linha, acredito que a ideia seja mostrar sua queda da graça como forma de aprendizado. Isso fica nítido para mim no diálogo que ele tem com o jovem Bruce Wayne logo após eles descobrirem o verdadeiro assassino dos Wayne, quando ele fala sobre o peso de tirar uma vida, instruindo o garoto a buscar justiça e não vingança. Mais Comissário Gordon que isso impossível. Os roteiristas só precisam ficar atentos com os passos que farão Jimbo trilhar daqui para frente.

Riddler_01Outra coisa que me surpreendeu positivamente foi o uso dos vilões. Gostei da forma como eles foram apresentados. Foi legal ver como eles não se apressaram em entulhar a série com referências e vilões do Batman a cada novo episódio, como na temporada passada, dando tempo para os personagens brilharem. A evolução de Edward Nygma (Cory Michael Smith, ótimo) de legista excêntrico à um assassino de sangue frio tomou o tempo necessário, construindo gradualmente a insanidade do personagem. O Charada foi disparado o melhor vilão da série para mim. A dobradinha que ele faz com o Pinguim é ótima.

Curti muito também o que fizeram com a Vagalume (Michelle Veintimilla) e sua nova origem. O tal do Maniax? Puta ideia legal, mesmo que curta. Ver os fugitivos do Arkham tacando o terror na cidade fez Gotham finalmente parecer como a Gotham das HQs e animações. Achei ótima a ideia de terem alçado a Barbara Gordon (Erin Richards) ao posto de vilã de vez, com ela lembrando um pouco a personalidade da Arlequina. Mas trazer de volta o Jerome Valeska foi sem dúvidas um dos grandes acertos do inicio da temporada. Cameron Monaghan fez um trabalho realmente fantástico na pele de Jerome. Eu adorei o personagem, e é realmente uma pena que tenham usado ele apenas como um falso Coringa na série. O produtor Bruno Heller já havia dito que impostores apareceriam, mas a acho que o resultado é um tiro no pé por dois motivos. Primeiro por que desperdiça um ator talentoso, e uma atuação à altura do palhaço do crime.  E segundo, e pior ainda, é que toda essa história tira do Coringa verdadeiro uma de suas características mais marcantes: a originalidade. Independente se ele venha ou não dar as caras na série, o fato dele ter se inspirado num famoso criminoso local da cidade diminui e muito a força dele como personagem, o tornando nada mais que uma cópia barata.

joker-jerome-gothamA série voltou a desandar legal mesmo para mim na segunda metade da temporada. O arco batizado de wrath of the vilains até que começa muito bem, com a excelente introdução do Mr. Freeze. Deu gosto de ver como eles acertaram o tom do personagem. Victor Fries não é como a maioria dos vilões da galeria do Batman. A sua motivação não é dinheiro ou poder – ao menos a principio.  Tudo o que ele quer é achar uma cura para a doença de sua esposa. A origem dele na série ficou excelente.

O grande problema é que Gotham parece continuar não conseguindo dar conta de todos os personagens e seus enredos. É como que se para poder trabalhar um personagem eles obrigatoriamente tenham que parar totalmente de desenvolver todos os outros núcleos. Vejam o caso do Pinguim, por exemplo, que começou tão bem esse segundo ano. Depois que ele é liberado do Arkham, o personagem fica literalmente vagando sem direção, até que acaba preso num plot chato e previsível com a família de seu pai. Outras que ficam totalmente perdidas na história são Tabitha Galavan (Jessica Lucas), a versão da série para a Tigresa, que fica sem ter o que fazer após a morte do irmão, e Leslie Thompkins, que antes mesmo de simplesmente sumir perto da reta final do show já não tinha mais propósito definido na trama – ok, nesse caso eu até dou um desconto já que a gravidez da atriz Morena Baccarin provavelmente deve ter afetado a participação da personagem. Isso para nem mencionar o pobre do Lucius Fox (Chris Chalk), que tenho a ligeira impressão que ficou esquecido dentro da bat-caverna até que o roteiro achasse que fosse conveniente ele aparecer novamente. A despeito dessas falhas, pelo menos Harvey Bullock (Donal Logue) e Alfred (Sean Pertwee) continuam ótimos coadjuvantes, com ambos não só servindo de conselheiros para os protagonistas, como de alívios cômicos certeiros. Pena que suas participações também pareçam bem reduzidas se comparadas ao ano anterior.

Freeze!Outro ponto negativo para mim: Hugo Strange. O personagem interpretado por B.D. Wong é extremamente caricato. Toda a história envolvendo as experiências que ele faz com os pacientes do Arkham é até legal, mas destoa muito do tom da série. O problema nem é tanto a inserção de elementos fantásticos numa série com uma pegada mais policial, mas sim o modo como eles fizeram isso. Toda vez que a história focava nos experimentos feitos em Indian Hill, eu sentia que estava vendo um daqueles filmes de terror de baixo orçamento feito para a TV – A participação do Cara de Barro foi vergonha alheia total. Êta negócio tosco. Isso sem contar que essa ideia de todos os vilões se originarem de um mesmo lugar está mega saturada na TV. Em The Flash é a explosão do acelerador de partículas, em Supergirl foi Fort Rozz. Custava nada eles variarem um pouco, né.

Bom, resumindo, Gotham melhorou muito da primeira para sua segunda temporada, mas ainda tem um longo caminho a percorrer pela frente se quiser ser considerada uma série realmente boa. Ela ainda precisa encontrar um tom próprio e aprender a lidar melhor com seus personagens, já que ela parece não saber muito bem o que fazer com eles após um tempo.

A ideia de ter um arco principal que amarre melhor as histórias funcionou bem, fazendo a série fugir um pouco da fórmula de vilão da semana. Com a ameaça das Cortes das Corujas estabelecida para o terceiro ano, talvez essa possa ser a chance de Gotham engatar de vez. Ou não, né… A reta final do programa mostrou o quanto eles adoram andar para trás (Para que ressuscitar a Fish Mooney? Para quê?). O jeito é esperar até setembro para ver.

 

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