Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2 – A Ameaça de Electro

A verdadeira Ameaça ao (Não Tão) Espetacular Home-Aranha é a Sony

O Espetacular Homem-Aranha 2 (3)

Eu queria gostar do Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro. De verdade. Eu tentei ao máximo deixar de lado toda a memória afetiva que eu tinha com a Trilogia original do Aranha, e curtir o primeiro filme dessa nova franquia com a mente aberta, sem ficar fazendo comparações. O esforço foi inútil. Eu não poderia ter saído mais decepcionado do cinema. Na tentativa de se afastar dos filmes antigos, eles tentaram dar um tom mais “dramático” a série, emulando um pouco da aura adulta do Batman do Nolan, apostando na história nunca contada (e com razão) dos pais de Peter Parker. Muitos se apegaram ao fato de terem os “lançadores de teia”, como prova irrefutável de que o filme é mais fiel ao espírito das HQs. Bom, eu trocaria qualquer lançador de teia por um roteiro que recontasse a origem do personagem de forma mais coerente. Mesmo assim, resolvi deixar de lado o quanto detestei esse reboot e fui ver a continuação, na esperança que finalmente tenham encontrado o tom certo para o aracnídeo. Afinal, não poderia ficar pior, não é?! Errado.

Antes que os defensores da nova franquia se manifestem, não é má vontade com o filme. Não é coisa de fanboy chato que não aceita que mudem uma vírgula na história de seus personagens, ou muito menos choradeira de viúva do Sam Raimi. Ora, tudo o que um fã de verdade quer, é ver uma boa adaptação de seu herói favorito para as telas. E é exatamente isso que torna A Ameaça de Electro tão frustrante: saber que eles tinham tudo pra fazer jus ao titulo de espetacular, e deixaram a chance escapar mais uma vez. De que vale cenas mirabolantes de ação, se o desenvolvimento dos personagens é deixado em segundo plano? De que vale ter atores do porte de Paul Giamatti e Sally Field se eles são subaproveitados na trama? Nem o sempre competente Jamie Foxx se salva. Embora o tom caricato que ele confira a Max Dillion, seja interessante (remete comicidade do Super-Homem do Richard Donner), é triste ver como desenvolvem sua história. Electro tem uma das piores motivações de um vilão da história. A impressão que se tem é que eles copiaram o Charada do Jim Carrey em Batman Eternamente na cara dura.

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Dirigido novamente por Marc Webb (500 Dias Com Ela), a aventura mostra Peter Parker (Andrew Garfield) atarefado com a responsabilidade de ser o Homem-Aranha, enquanto lida com a promessa que fez ao Capitão Stacy, pai de Gwen Stacy (Emma Stone), em seu leito de morte, de manter-se afastado de sua filha. Ainda atormentado pelo passado, ele descobre novas pistas que podem levar a verdade por trás do desaparecimento de seus pais. As coisas parecem se complicar de vez em sua vida, com o retorno de um velho amigo Harry Osborn (Dane Dehaan), e o surgimento de um novo vilão: Electro (Jamie Foxx).

O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro (2)

O roteiro de Robert Orci e Alex Kurtzman (Star Trek: Além da Escuridão) peca pelo excesso. Há uma  preocupação latente em adicionar personagens, ou inserir referencias aqui ou ali, mas falta ainda espaço e tempo pra desenvolvê-las. Tudo nesses novos filmes é na verdade uma grande preliminar; se prepara o terreno pra as sequências, mas esquece-se de concluir a história que está sendo contada. A (desinteressante) história dos pais do Peter, que poderia muito bem ter sido resolvida no primeiro filme, está ali somente cumprindo tabela, reafirmando a Oscorp como a grande vilã na vida do Cabeça de Teia. Amarrar todos os vilões do universo do Aranha a Oscorp, aliás, é uma das ideias mais questionáveis desses filmes, e desperdiça o potencial individual que cada um deles poderia ter ao torná-los meros lacaios da empresa. Essa inabilidade em construir personagens, e amarrar melhor a trama, acaba jogando anos de quadrinhos no lixo. Não há desculpa para a descaracterização dos Osborn. Quem viu Dane Dehaan em Poder Sem Limites sabe o quanto ele pode soar assustador e perturbado, mas seu tempo em tela é prejudicado pela fraca história. Da escolha de tornar Harry o Duende Verde antes de Norman Osborn, à doença hereditária (?), que vejam só, dão gradativamente o aspecto esverdeado e maníaco do vilão, tudo soa uma tentativa de evitar seguir o que já havia sido feito antes nos cinemas.

Uma das coisas mais bacanas da relação entre Peter e Harry nas HQs, era exatamente mostrar as consequências e o peso do que ser o Homem-Aranha acarretava na vida de Peter e todos ao seu redor. O conflito interno de Harry, divido entre o ódio pelo aranha e o sentimento pelo amigo, davam uma fragilidade ao personagem, que o tornava tão mais complexo do que o que vemos aqui. Até Harry assumir o manto do Duende pra vingar a morte de seu pai, tínhamos tempo de acompanhar sua deterioração mental, e assistir sua insanidade finalmente emergir, esse sim, o verdadeiro legado dos Osborn. A raiva que o personagem de Dehaan nutre pelo HomemAranha, por causa do “sangue milagroso” dos Parker, chega a ser risível de tão boba.

O Espetacular Homem-Aranha 2 The Amazing Spider-Man 2 Pictures imagens Andrew Garfield - Clube do Filme - 1

Entendo que tudo que muita gente espera de um filme de super-heróis, seja apenas algumas horas diversão honesta e descompromissada. Ok, nada mais justo. E nesse quesito o filme é até competente. Com um orçamento US$ 200 milhões, os efeitos especiais nas (poucas) cenas de luta estão ótimos. O uniforme e a mobilidade do amigão da vizinhança nunca estiveram tão parecidos com a dos quadrinhos. Em muitos momentos parece que estamos assistindo a uma HQ em movimento.
Também conta a favor do filme a química entre o casal de protagonistas. Assim como no anterior, Emma Stone (Zumbilândia)está incrível. Ela é a personificação exata da Gwen Stacy. Da aparência a personalidade forte, é difícil imaginar outra atriz que coubesse tão perfeitamente no papel. E verdade seja dita, Andrew Garfield (A Rede Social) é fisicamente muito mais parecido com o herói do que Tobey Maguire. No entanto, a nova versão é muito menos fiel ao Aranha que eu cresci lendo do que a versão de dez anos atrás. Não se trata apenas das mudanças radicais em coisas estabelecidas na mitologia do personagem, mas sim, de entender a essência do herói.

Peter Parker é um cara comum. Ele não estava predestinado a ser herói, ou muito menos pediu por isso. Ele é o cara que ao mesmo tempo em que tinha que lidar com vilões atacando Nova York, lidava com a falta de dinheiro, se desdobrava entre trabalho e colégio. A fácil identificação que qualquer leitor possa ter com o personagem, vem do fato de conseguir se enxergar nele. De simpatizar com seus problemas. E mais do que um conto sobre um nerd excluído, Peter é a tradução do verdadeiro heroísmo. É essa capacidade de colocar o bem do próximo acima de seu, que o torna tão grande. “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. Sam Raimi compreendia isso muito bem. A sequência em que ele para um trem lotado, após a luta com o Dr. Octopus (Alfred Molina) reunindo suas ultimas forças, em Homem-Aranha 2, ou o final do filme de 2001, na cena em que Peter abre mão do amor de Mary Jane (Kirsten Dunst), pois entende o quanto ficar com ela seria arriscado, são ótimos exemplos.É a melhor definição do altruísmo de verdade.

O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro (3)

O Aranha de Webb tem o visual, tem as piadinhas, mas parece ainda não ter o espírito do personagem. Não adianta ter a morte da Gwen, um dos eventos mais marcantes da história do aracnídeo, se Peter não aprende lição nenhuma com isso.
O problema dessa nova franquia não é a ainda viver a sombra da anterior, como se pensa, e sim não ter força o suficiente pra caminhar com as próprias pernas. Talvez ela dialogue bem com os fãs da linha Ultimate (a qual eu, particularmente não gosto), mas pra funcionar satisfatoriamente, ela ainda precisa aprender a construir melhor seus personagens. E pensar que o estúdio planeja uma quadrilogia, e mais dois Spin-Off da série. Dá até medo de pensar o que eles irão fazer com o Sexteto Sinistro. Ao final do filme, a impressão que fica é que o maior vilão na vida do Homem-Aranha não é a Oscorp, e sim, a Sony.

 

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