Aviso: O texto abaixo contém spoilers, leia por sua conta em risco.
Eu confesso que tinha desistido de acompanhar essa temporada de The Walking Dead. Depois do Mid Season Finale broxante, e do episódio de retorno morno, larguei a série de lado, e por pouco não a deixo de vez. Foi só por muita curiosidade (e ócio), que retornei para ver o desfecho da busca do xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln) e sua trupe por um local seguro em meio ao apocalipse zumbi. Felizmente, a reta final da temporada compensou todos os eventuais tropeços que ela possa ter tido no caminho, e mais uma vez me segurou até o último episódio.
Sejamos justos, a série começou muito bem seu quinto ano, retomando do exato ponto onde a anterior parou. Esse início convence e empolga, não somente pela ação desenfreada que se seguiu com o grupo escapando e destruindo Terminus, o falso refúgio ao qual foram aprisionados, mas por manter um arco fechado redondinho nos caçadores, os antagonistas da vez, sem precisar alongar muito a história por vários episódios. Essa agilidade inicial, pontuada pela ação, violência e dilemas morais comuns na série, porém, não se mantiveram durante os capítulos seguintes. Um dos motivos da quarta temporada (a meu ver) ter sido uma das mais chatas e arrastadas, foi justamente por eles separarem o grupo, e colocar personagens novatos, e não tão bem desenvolvidos em núcleos sozinhos. Essa formula se repete novamente aqui. Em dado momento da primeira metade, o grupo está cada um para um canto, e pesa o fato de determinadas histórias serem realmente desinteressantes se comparada a outras. Quer um exemplo? Todo o arco da oficial Dawn e do hospital é dispensável, e desnecessariamente longo. Beth (Emily Kinney) é a única personagem que temos ali que realmente nos importamos, e ainda que esses episódios sirvam para mostrar seu desenvolvimento e amadurecimento, todos os outros personagens ao redor são tão sem graça, e o desfecho em si tão previsível, que ficamos nos perguntamos se havia realmente necessidade de perdemos tanto tempo focados neles.
Essa divisão também pesou um pouco sobre a trama envolvendo a travessia para Washington. Ainda que o plano parecesse fadado ao fracasso desde o início, ver como os personagens reagem a qualquer vislumbre de esperança é algo positivo. No entanto, não adianta nada ter um episódio inteiro dedicado a um determinado personagem se vão simplesmente ignorar por completo todo seu desenvolvimento nos capítulos seguintes. Abraham (Michael Cudlitz) tem sua história revelada através de flashbacks em um ótimo episódio, para depois ser relegado a segundo plano por todo o resto da temporada, como se os roteiristas não soubessem muito bem onde encaixa-lo depois de concluir o arco de Washington. E um personagem que parecia tão promissor, se torna mais um forte candidato a virar comida de zumbi na próxima temporada. Maggie (Lauren Cohan) é outra que sofre na mão dos roteiristas. Só assim para explicar sua inconstância. Primeiro ela não está nem aí para o que ocorreu com sua irmã depois da destruição do presídio, depois vemos como reage devastada ao confrontar a realidade da perda de todos os membros de sua família, só para por fim assistirmos como ela se esquece de tudo e volta a ficar sem função definida na trama ao chegar a Alexandria.
A verdade é que o maior trunfo da série se tornou nas últimas temporadas o seu maior problema: os personagens. É por nos importamos com eles, e por alguns serem realmente ótimos que continuamos assistindo (Sim, estou me referindo ao Daryl). Contudo, desde que Rick teve a “famigerada” ideia de abrigar todos os sobreviventes de Woodbury no presídio, a série sofre com um excesso deles. Com tanta gente entrando e saindo da trama, fica difícil de dar conta do desenvolvimento de cada um, o que acaba resultando em personagens rasos e descartáveis, que sabemos que estão ali só de passagens, e que consequentemente não damos à mínima. Tyrese (Chad Coleman), por exemplo, nunca chegou a ter a mesma força que tem nas HQs, e todo seu dilema moral (que poderia ter sido muito melhor trabalhado) tornou-se apenas chato. O Padre Gabriel (Seth Gilliam) é outro que está indo pelo mesmo caminho, com uma trama arrastada e insuportável.
Fora algumas exceções, como Sasha (Sonequa Martin-Green), que conseguiu ter um bom arco próximo a reta final, com sua dificuldade de se (re)habituar ao convívio e costumes em sociedade, o fato é que boa parte do elenco está ali somente fazendo figuração de luxo, esperando pela vez de morrer (Alô povo de Alexandria?). The Walking Dead ainda precisa trabalhar as tramas de seu elenco de apoio, do mesmo jeito que trabalha a do elenco principal. Não é à toa que Daryl (Norman Reedus) e Michone (Danai Gurira) sejam os favoritos do público. Ambos conseguem ser badass, e ao mesmo tempo apresentarem fragilidade emocional anos luz a frente do resto do elenco.
Falando em badass, Morgan (Lennie James) retorna a série no melhor estilo possível. Sua reintrodução nesse momento da trama parecesse acertada, uma vez que sua postura zen indica que ele deve se opor as ideias de sobrevivência de Rick. Sua aparição no último episódio serve também para estabelecer uma nova ameaça no caminho dos nossos protagonistas, os Wolves (Será que Negan e Lucille estão finalmente a caminho?). Ameaça que, diga-se de passagem, foi bem construída no desenrolar da temporada, com os zumbis marcados com o W na testa perambulando soltos por aí.
Outro ponto positivo é o amadurecimento de Glenn (Steven Yeun) nesse ano da série. Ele que desde o presídio já parecia muito mais centrado, prova ter capacidade, e muito mais racionalidade para liderar do que o próprio Rick. E ao lado de Noah (Tyler James Williams) protagoniza uma das cenas mais brutais e cruéis da temporada (diria até de toda a série), digna dos melhores Gore. Tem que ter estômago forte para assistir.
Agora quem rouba à cena mesmo é Carol (Melissa McBride), em nada lembrando a dona de casa indefesa do inicio da série. Sua evolução de esposa submissa, a manipuladora e estrategista mor, só não é a melhor do programa, por que a deterioração mental de Rick ainda é o ponto alto do show. Rick é provavelmente o vilão travestido de mocinho mais popular da TV. Não vejo os fãs torcerem tão veemente por um personagem tão moralmente dúbio desde Walter White. Por que mais saibamos que ele está errado, continuamos tentando achar justificativas para todas as loucuras que ele comete, pelo simples fato que acompanhamos sua jornada desde o início. E se formos analisar friamente, ainda que entendamos seus motivos, o fato é que personagem em nada lembra o mesmo xerife da primeira temporada. Rick surtou há muito tempo, e o antes heróis do programa é agora um tremendo de um psicopata. Sério, vai me dizer que o plano dele para Alexandria não era exatamente o mesmo que o Governador tinha para a prisão?
Enfim, a série é boa, têm ótimas atuações, um argumento competente, grandes sequências de ação e efeitos de maquiagem impecáveis, mas ainda é uma das mais irregulares da atualidade. Embora a segunda metade dessa quinta temporada consiga recuperar o fôlego que a série parecia ter perdido no ano anterior, fica a sensação de que o resultado poderia ter sido melhor. Os produtores ainda precisam aprender a manter uma sequência de bons episódios (o que veja bem, não significa ter hordas de zumbi e carnificina a todo tempo), e fazer com que toda a temporada tenha o mesmo vigor da première e do season finale.
De qualquer maneira a série cumpriu seu objetivo, e novamente me deixou curioso para assistir o que vai rolar no sexto ano. Quer dizer, até o terceiro ou quarto episódio, quando a trama começar a se arrastar novamente