De volta ao parque dos dinossauros
Aviso: O texto abaixo contém spoilers, leia por sua conta em risco.
Esse ano parece realmente destinado a me fazer revisitar a minha infância. É Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball ganhando novas (e bacanas) animações, séries famosas dos anos 90 confirmando retorno (Três é Demais, Um Maluco no Pedaço, Xena) e franquias antigas voltando com tudo no cinema. Teve Mad Max em maio, em dezembro tem Star War (aguenta, coração!), e claro, a razão pela qual estou escrevendo esse texto: Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros.
Eu vi esse filme já tem quase um mês, e tô pra escrever esse post desde então, só que, bom… O blog não se chama Procrastinadores à toa, né. A boa notícia (?!), é que estou pondo a casa em ordem (ou tentando, rs), então esperem mais textos no decorrer das próximas semanas. Enfim, chega de conversa fiada e vamos ao filme.
Eu gostei de Jurassic World. Muito mais até do que achei que fosse gostar. O filme, que se tornou a 3ª maior bilheteria do cinema recentemente, é uma boa adição à franquia, apesar de “todos” os pesares. Assim, ele não é a obra-prima que foi o Parque dos Dinossauros original, mas é bem legal. Em grande parte por recriar as mesmas situações, e referenciar bastante o longa de 93. Na verdade, acho eu que é justamente essa sensação nostálgica que o filme evoca que torna a experiência de voltar ao parque tão bacana. A ideia de ter o parque estabelecido e funcionando, quase como um Seaworld, é boa? É ótima. É legal ver o que seria projeto inicial do John Hammond finalmente em ação. Mas o filme é tão previsível, tão cheio de clichês, que em algumas horas chega a ser um pouco frustrante.
Eu até entendo e dou um desconto que esse filme, mesmo pegando a galera mais velha por conta da nostalgia, mira num público muito mais novo, mas o roteiro do filme é muito manjado. É aquela coisa: Você sabe que apesar de todo o perigo as crianças não vão morrer; que os dramas familiares irão se dissipar na hora final (Não seria uma produção do Spielberg se não tivesse uma família passando por uma crise, né?); que os vilões não vão conseguir se safar (ah sim, tem de novo isso de um funcionário infiltrado pra roubar os dinos) e que no final das contas tudo vai terminar bem com os protagonistas. Eu estou ok com isso. Não tenho problemas com o uso dessas fórmulas batidas, com tanto que os caminhos até esses eventos me mantenham entretido. E bom, o filme consegue ser bem sucedido nesse departamento. Mas de um modo curioso.
Ciente da obviedade do plot, o diretor Colin Trevorrow meio que brinca com isso a todo tempo, e injeta humor e doses de absurdos no filme, maiores do que dinossauros serem clonados a partir de um mosquito fossilizado.
Da personagem de Bryce Dallas Howard correndo pra lá e pra cá em cima de um salto alto, aos velociraptors agirem como cães adestrados (ainda que possa ser posto em discussão que dinossauros também são animais, sendo assim passíveis de serem domesticados), é tudo tão cartunesco, tão exagerado, que ou você simplesmente se desliga, e embarca de vez na onda, ou então sai revoltado da sala de cinema. Sério, eu realmente não teria me espantado se o T-Rex tivesse dado uma piscadela marota pra tela depois de ter aparecido aos 45 do segundo tempo pra salvar o dia. E vejam bem, não digo isso por que julguei o filme um nonsense bobo, ou como uma forma de desmerecê-lo (por mais estranho que isso possa parecer), mas sim para pontuar como o longa opera consciente do quão extravagante realmente é. E brinca com isso. Parte da graça da coisa acaba sendo justamente essa.
Alie esse não se levar assim tão a sério, com um monte de piadas auto-referentes, à um protagonista carismático, e pronto… Tá aí a receita do sucesso de Jurassic World. Chris Pratt carrega o filme praticamente nas costas. O personagem dele é um misto do Dr. Malcolm do Jeff Goldblum com o Muldoon, o guarda badass do parque original. Se realmente rebootarem o Indiana Jones que chamem mesmo o cara para o papel. Ele tá com bola toda depois de Guardiões na Galáxia, e merecidamente. Já sua parceira em cena Bryce Dallas Howard ainda não conseguiu um papel bacana o suficiente pra ela desde A Vila (Sim, aquele filme do M. Night Shyamalan. Que eu acho bem legal por sinal). Ela já teve em diversas grandes produções nos últimos anos, mas sempre é meio que subaproveitada. Aqui, apesar de achar que ela tem uma química legal com o personagem de Pratt, é fato que sua personagem é prejudicada pelo roteiro fraco. E não, não tô reclamando do fato dela correr de um T-Rex de salto alto. Refiro-me as críticas de misoginia e machismo no filme, pelo fato de sua personagem, começar uma mulher com uma carreira bem sucedida, mas termina o filme com um par romântico e com recém adquiridos instintos maternos, como se fosse isso que toda mulher precisasse.
É uma interpretação um tanto equivocada em minha opinião. Embora essa até possa ser uma leitura feita do caso, acho que a intenção não era bem essa. A ideia ao que me parece era mostrar a humanização da personagem, como ela evoluiu como pessoa. De um individuo egoísta, focado totalmente no trabalho, que nem lembra a idade dos sobrinhos, ela se torna capaz de se sensibilizar e chorar com a morte de um dinossauro. Não é necessariamente uma afirmação de que tudo o que uma mulher precisa para vencer na vida é filhos e um namorado (século XXI, né, galera. Século XXI). Na verdade, isso nada tem a ver com gênero. Sabe aquela coisa de fazer o protagonista aprender com seus erros, e mostrar que o amor ao próximo e empatia estão acima dos bem materiais, e carreira? Então tá mais pra isso (clichê, né?). Essa ideia é velha. Desde que Charles Dickens escreveu Um Conto de Natal que de tempos em tempos (pra não dizer todo ano) surge uma história com essa temática. E Hollywood adora nos dizer como devemos nos dedicar mais a família, e nos importar menos com o dinheiro. Só pra ilustrar alguns filmes que me veem a mente agora, estão Hook – A Volta do Capitão Gancho (do próprio Spielberg), Click (do Adam Sandler), Marley & Eu e etc. O fato desse percurso agora ser trilhado por uma personagem feminina é na verdade uma evolução. Agora, se você me disse que isso pode não ter sido desenvolvido muito bem na trama (como muitas outras coisas), aí são outros quinhentos…
Para quem cresceu fascinado com dinossauros após ver o primeiro filme, lá na década de 90, pode não ser tão um filme tão bacana assim. Mas na boa, Jurassic World acaba honrando bem o legado da série. Uma cena na sessão que eu assisti ilustra um pouco disso. Na poltrona atrás de mim tinha um menino, de cerca de uns cinco/seis anos, mega empolgado com o filme. Aí o tal do Indominus Rex (o super dinossauro criado combinando características genéticas de várias espécies) aparece na tela uivando e devorando todo mundo, e o moleque começa a implorar pra mãe o levar embora. Eles saem, ela deve ter acabado o acalmando, pois eles voltam e ficam até o final do filme. Quando o T-Rex e os velociraptors surgem lá pelo terceiro ato pra salvar o dia, o guri já tava lá vibrando novamente.
Agora, o que isso tem a ver com esse texto ou com qualidade do filme em si? Bom, o garoto é no fundo o melhor termômetro pra avaliar o filme. Pra ele, com certeza, não deve ter importado que subaproveitaram o Vincent D’Onofrio (o vilão com ares de Dick Vigarista, Morton) ou o Omar Sy (que nem sei dizer se morreu ou não na floresta) na trama, ou que toda essa história sobre criar um vilão híbrido é sem graça e sem sentido (e lembra desnecessariamente Alien IV), quando um parque lotado de dinossauros já deveria ser ameaça o suficiente. O moleque provavelmente se assustou, se divertiu, e imagino que deva ter se encantado tanto com dinossauros quanto eu e um bocado de gente que viram esses filmes quando criança (Ainda me lembro do terror que foi assistir o Mundo Perdido nos cinemas).
E no fundo acho que é pra eles que esses filmes são feitos. Pode pegar a gente ali pela nostalgia, e nos deixar meio putos com todos os furos do percurso, mas eles devem cumprir a sua missão de entreter a galerinha que tá vindo por aí. Se despertar neles a mesma paixão por dinossauros que despertou na minha geração, já tá valendo.