Crítica | The Walking Dead – 7ª Temporada

The Walking Dead e arte de enrolar…

Aviso: O texto abaixo contém spoilers, leia por sua conta em risco.

No texto que escrevi sobre a sexta temporada da série, eu afirmei que se não desistisse de The Walking Dead naquele momento, provavelmente não desistiria nunca mais. A frustração com o broxante season finale do sexto ano não me fez abandonar de vez o programa, mas talvez tenha me deixado escolado o suficiente no modus operandi dos produtores conduzirem o show, ao ponto de que a vagarosidade com que resolveram conduzir essa temporada já nem me surpreende mais.

Começando exatamente de onde a sexta temporada havia parado (ah, aquele cliffhanger maldito), assistimos em choque um dos momentos mais icônicos e brutais das HQs ser adaptado, no que já pode ser considerada uma das cenas mais sangrentas da história da televisão. Ver Glenn (Steven Yeun) e Abraham (Michael Cudlitz) serem brutalmente assassinados por Negan (Jeffrey Dean Morgan) foi pesado. A tortura mental que o vilão faz é cruel. Até para mim, fã de produções gênero, a violência gráfica e psicológica foi difícil de digerir. Contudo, o que parecia ser o inicio de um dos melhores anos da série, acabou ficando apenas na promessa. A sensação que se têm é que entre o violento e chocante primeiro episódio da temporada e o ultimo, exibido domingo passado, pouca coisa realmente aconteceu.

The First Day of the Rest of Your Life“, capítulo que encerrou o sétimo ano da série, iniciou a tão aguardada guerra entre Alexandria e Salvadores, deixando um gosto tanto quanto amargo na boca. O episódio em si até que é bom – um pouco óbvio e repetitivo em alguns momentos, como a construção da despedida de Sasha (Sonequa Martin-Green). Mas veio tarde demais. Com exceções de uns poucos momentos, a temporada inteira soa arrastada, numa tentativa descarada de ganhar tempo e prolongar o máximo possível o arco “Guerra Total” dos quadrinhos. O que é realmente uma pena. Aparentemente, a preocupação em não desperdiçar material para as próximas temporadas, engessou totalmente a condução e ritmo da história.

A metade inicial desse ano funcionou super bem. Os oito primeiros episódios serviram bem para demonstrar como Negan quebrou totalmente Rick. A submissão do Xerife Grimes é algo deprimente de se ver para quem acompanha a sua jornada há tanto tempo. Só no primeiro capítulo, “The Day Will Come When You Won’t Be”, Andrew Lincoln mostra por que é um dos maiores injustiçados da história do Emmy. Faz tempos que sua atuação merecia ao menos uma indicação como Melhor Ator. Ver Rick recuperar sua confiança, e finalmente se opor a tirania dos Salvadores deveria ter sido um dos pontos altos do show. Mas não foi.

É incompreensível como a qualidade dos episódios caiu vertiginosamente na segunda metade dessa temporada, e o que tinha se iniciado de forma brilhante, rapidamente se transformou num verdadeiro exercício de paciência, enquanto a história parecia simplesmente não ir a lugar nenhum. A melhor analogia que me vem a cabeça é a de um cachorro correndo em círculo, perseguindo o próprio rabo. Foi um festival de frases, situações e dilemas repetidos até a exaustão. Eu juro que não aguento mais ouvir Michonne (Danai Gurira) repetir “nós somos aqueles que sobrevivem” outra vez. E sério que toda vez que a Jadis (Pollyanna McIntosh) – a esquisita líder da comunidade do lixão – aparecer vai ser negociando com alguém? Aliás, quantos desses pequenos grupos, que pouco acrescentam ao andamento da história, ainda veremos surgir na série?

Eu geralmente costumo não me incomodar muito com furos e conveniências de roteiro em séries de TV, afinal de contas, nenhum filme ou série está isento de falhas. Mas o quanto os roteiros dos episódios abusaram da minha suspensão de descrença não está no gibi. Então, quer dizer que no meio de uma guerra contra um dos piores inimigos que eles já enfrentaram, Rick e Michonne resolvem sair em “Lua de Mel” e acabaram topando com armas e mantimentos assim como quem não quer nada? Fácil assim? E como ninguém notou o desaparecimento do Heath (Corey Hawkins)? – Ok, eu até sei que o ator no momento está fazendo 24: Legacy, mas nenhuma menção ao seu sumiço? Nada?

O que mais me irritou foi a inconsistência de alguns personagens. Com exceção de Dwight (Austin Amelio), Padre Gabriel (Seth Gilliam) e Eugene (Josh McDermitt) – esse último realmente surpreendendo ao não se importar em trair seus amigos para sobreviver – a maioria teve desenvolvimentos pífios. Jesus (Tom Payne) foi subutilizado a temporada inteira, ficando sem função quase nenhuma na trama. O mesmo serve para o Rei Ezekiel (Khary Payton), que apesar da introdução grandiosa, custou muito a mostrar a que veio (assim como O Reino, que poderia ter sido muito melhor desenvolvido na trama). Rosita (Christian Serratos) com sua sede de vingança desmedida se transformou num verdadeiro imã de problemas, com atitudes irresponsáveis que só geraram mais mortes.

O troféu de “insuportáveis”, porém, vai para Carol (Melissa McBride) e Morgan (Lennie James). Ainda que eu ache que as discussões sobre vida e morte, matar ou não matar sejam ótimas – e quando feitas decentemente um dos grandes trunfos da série –, o drama de ambos já está cansativo, preso num looping sem fim. Eu até gosto da idéia deles sofrerem com a culpa e os dilemas morais que toda a situação implica, mas dessa vez erraram na mão. Já falei diversas vezes como para mim o Morgan é um dos poucos personagens com algum resquício de moralidade e senso de justiça dentro daquele universo. Mas do ponto de vista narrativo, suas história e a da Carol estão empacadas. Literalmente. Cacete… A Carol passou praticamente os dezesseis episódios da temporada isolada, sozinha dentro de uma casa no meio do nada. Assim não dá The Walking Dead. O pior é que todo esse trabalho em mostrar o drama vivido por ambos não serve de muita coisa, pois sabemos que no final, por mais que eles não queiram, vão ter que sujar as mãos de sangue. Ou alguém ai realmente duvidou que a Carol não fosse voltar a ativa na hora em que soubesse o que houve com Glenn e os outros?

O que mais me frustra é saber que quando eles querem, conseguem ser realmente bons. A fidelidade com que a série seguiu a obra original na primeira metade da temporada deu gosto de ver. Ali o show conseguiu mesclar muito bem episódios impactantes, repletos de cenas icônicas retiradas diretamente dos quadrinhos com capítulos que desenvolvessem a psique dos personagens de forma coerente. A ida de Carl (Chandler Riggs) ao Santuário, a morte de Spencer (Austin Nichols) e a visita de Negan a Alexandria foram ótimos momentos em meio a um mar de fillers. Nem a presença do sempre carismático Jeffrey Dean Morgan consegue aliviar o a decepção com o resultado final. E olha que o cara estava inspirado. Negan é um vilão daqueles que você adora odiar. Pena que a temporada como um todo não faz jus a sua atuação.

O produtor Scott M. Gimple disse que eles pretendem continuar com a série até por volta da vigésima temporada. Se eles continuarem esticando arcos dos quadrinhos dessa maneira, provavelmente conseguirão. A questão é se eles irão conseguir manter a vitalidade e interesse dos espectadores até lá – a série registrou uma de suas piores audiências desde a terceira temporada no encerramento desse ano. Uma queda de aproximadamente sete milhões de espectadores.

O capítulo de estreia do oitavo ano, que também marcará o centésimo episódio da série trará de fato a tão aguardada “guerra” entre as comunidades de sobreviventes. Tanto elenco quanto produtores já falaram por aí que o episódio será algo grandioso, de explodir cabeças. Não duvido. O que eu duvido mesmo é que eles sejam capazes fazer algo realmente bom entre a Premiere e o Season Finale enquanto não abandonarem de vez esse modelo de trabalhar um núcleo por episódio.

Lucille, dai-me forças!

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